VOZES QUE CURAM

 

 

CRISTIANE PEREIRA DE SOUZA

CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE - UFRO

 

RELATOS DE UM PROJETO

 

                “Um enfoque da mulher na sociedade – o exercício da benzeção” foi uma das primeiras perspectiva desta pesquisa monográfica: analisar os anseios, os sonhos, a experiência da prática religiosa como dimensões naturais e intrínsecas do ser mulher em nossa sociedade; trabalhando na concepção do gênero mulher direcionado para a instância da religiosidade individual como ordenadora de vivencias e do serviço à coletividade.

                Porém, com a execução do projeto, a pesquisa tornou-se um exemplo de como a construção teórica é diálogo. Os papéis técnico/teórica do pesquisador e do objeto de estudo na pesquisa, sofreram modificações epistemológicas no estabelecimento de uma nova relação entre colaborador e oralista, termos introduzidos por José Carlos Bom Meihy (1991, 1996a e 1996b). A ruptura insinuada nestas nomenclaturas, diz respeito à postura do entrevistador como consciente de sua atuação.

                O entrevistador estabelece uma postura de diálogo e afinidade com o outro a fim de que o trabalho textual seja assumido respectivamente enquanto à visão do colaborador sobre si e sobre suas experiências de vida; paralelamente a esta noção, o entrevistador terá a possibilidade de dialogar em sua interpretação com o texto das entrevistas sem incorrer numa anulação do sujeito, o que comumente ocorre nos trabalhos que utilizando a oralidade, pois não há em nenhum momento um suporte textual em que o colaborador possa realizar-se enquanto sujeito, tenha garantido uma integralidade discursiva. Nesta utilização despedaçar do relato das entrevistas, o cientista exerce uma busca por partes do outro para justificar suas pressuposições teóricas, sendo estas teorias o único emoldurado onde a voz do outro passa a existir.

                A História Oral aqui utilizada quer, a partir do diálogo estabelecido entre entrevistado e entrevistador, exercer uma criação textual onde o entrevistado, em diálogo, construa um si dizer, uma narrativa assentada no fluxo narrativo de sua memória, compondo um texto a partir de técnicas literárias. Esse texto é o referente de si mesmo como criação textual para uma interpretação, para múltiplas leitura conforme a perspectiva do oralista/leitor.

            A partir dessa postura de reflexão, diálogo e de construção textual a compreensão de realidade e de texto, estabelecidos enquanto percepção da ficção coletiva, como criação social (per)verteu o pretexto deste trabalho numa possibilidade para deslocar as construções textuais do texto, alargando-as como dimensão ficcional. A História Oral não quer se instituir como é uma possível ciência, mas como crítica teórica, por uma outra maneira de criar o conhecimento e compreender a realidade.

 

HISTÓRIA ORAL NA CONSTRUÇÃO TEXTUAL

 

                Delineamos aqui os procedimentos utilizados para a construção textual do texto/entrevista da colaboradora Maria de Jesus Sarmento. Na pré-entrevista foi apresentado o projeto e feito o convite para que participasse. Maria de Jesus acolheu animada a idéia de fazer parte dos trabalhos da pesquisa e atribuiu minha visita a algum designo divino. Ao todo foram realizadas três entrevistas e todas ocorreram em sua casa, ou na sala ou no quintal cercado de plantas. A primeira entrevista caracterizou-se pela disposição da palavra à colaboradora para que esta iniciasse sua narrativa por onde quisesse, sem a imposição de um ordenamento temporal, sem questionários, ou blocos temáticos. Tal procedimento continha o intuito de colhermos um bloco único de narrativas.

                A este procedimento nomeamos: cápsula narrativa (Caldas 1999b), como constitutivo de um centro de narratividade, que se define como um momento aonde lançamos mão da palavra a fim de possibilitar ao outro condições para que ordene seus relatos, elabore sua visão de mundo, estruture sua temporalidade singular, de um corpo, um ritmo, um discurso, uma origem voluntária, que comumente destoa da linearidade histórica (nascimento ou infância). As outras entrevistas foram exploratórias e complementares aos assuntos relatados na cápsula narrativa, sendo todas elas posteriormente integradas a cápsula ou na pós-cápsula.

                Com as entrevistas concluídas foi feita a passagem da forma oral para a escrita. Essa transcrição foi mais que um registro da voz gravada propunha-se a ir além-do-dito através dos registros das expressões faciais, das peculiaridades de palavras, de emoções, dos silêncios, a entonação de voz, gesticulações, pausas, que fizeram parte da composição textual. Este mundo não-dito aparece no texto em variações diferenciadas da grafia (negrito, aspas, itálico) que foram utilizadas como instrumentos para denotar as variáveis da oralidade. É certo avaliar que o limite da transcrição não está na gravação, mas na percepção do oralista sob o momento da entrevista com o colaborador e suas intenções embutidas nas interfaces da oralidade.

                A textualização, momento posterior à transcrição, trabalha para transformar as intenções que pertencem à dinâmica da fala, em expressões textuais, abstraindo do texto as repetições, dando leveza à linguagem, criando uma leitura coerente e legível. É nesta atmosfera de transcriação (Campos 1976) enquanto tradução criativa, que se realiza a teatralização no texto, as ações de rir, chorar, empolgar-se, se corporificam em palavras; aonde os silêncios e o ritmo das entrevistas são expressos em pontuações, em particular as reticências e interjeições. Em cada re-contar, acrescentar, dizer de intenções o oralista se coloca no texto, pois estas são interpretações, suas impressões das vivências em diálogo com o colaborador. Jamais o colaborador teria falado daquela maneira, mas a forma como o texto se teatraliza, corresponderá mais a sua elaboração discursiva, do que uma oralidade escrita.

                Todo o trabalho literário na criação desta entrevista ficcional tem como ponto de vista garantir as intenções discursivas do colaborador. É intervendo e modificando profundamente a transcrição que se encontra o outro e o outro se reconhece no texto. Tal afirmação se confirma no momento da conferencia do texto pelo colaborador que reconhece cada palavra como sendo sua.

                Segundo a concepção da Hermenêutica do Presente (Caldas 1999a) todo o processo de composição textual (do projeto ao texto final) faz parte de uma transcriação hermenêutica. O que para Meihy (1991) perfaz uma etapa final da textualização, para a Hermenêutica do Presente a transcriação toma proporções de uma concepção de mundo, que compreende a realidade como texto em construção e leitura. É nesta lógica de transcriação que se estabelece o texto (mundo) enquanto polifonia, um jogo dialógico de vozes, onde estão presentes o narrador e outras vivências que o circundam e de todo o imaginário (infinito discursos) que constituem o que chamamos de sociedade: de tal modo que se abrem espaços para uma narrativa de infinitas possibilidades no momento da interpretação, sendo a leitura do pesquisador apenas uma entre tantas perspectivas desdobrada pelo texto.

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEITURA

 

                A forma de apresentação deste artigo não é desprovida de intenção: propomos primeiramente a leitura na íntegra das entrevistas da colaboradora a fim de oportunizar aos leitores outras visões, outras múltiplas leituras destes.

                Por fim apresento uma das possíveis leituras que se realiza como um conjunto de fragmentos provisório de sentidos selecionados no texto num processo de pontuação de idéias, de modo a se distinguir como desdobramento textuais. Como afirma Barthes (1992) o texto possui várias entradas que não se hierarquizam, a não ser pelo viés escolhido pelo leitor. Neste caminho qualquer ponto de chegada é pura ilusão textual. O fim e o começo são somente momentos de um percurso que deságua sempre em outras redes de simbolismos. É no seguir o que no texto me inquieta (punctum), ou trilhar as intenções do colaborador-texto (studium); seja um desejo de falar do já dito, seja um não-dito, todos são possibilidades inseridas num tipo de compreensão textual que Barthes (2000) conceitua:

                O texto não é coexistência de significados mas passagem, transversal; logo ele não responde a interpretação, o mais liberal que ele seja, mas a uma exploração, a disseminação. A pluralidade do texto não depende da ambigüidade do seu conteúdo, mas naquilo que pode ser chamado da pluralidade estereográfica dos significados que o constroem.(2000)

                Ele, o texto/interpretação, é uma tentativa de leitura – múltipla e dialógica. Seu formato é de fissura textual que pode se abrir no ato da leitura; pois a rede de sentidos não está no texto. O texto só pode ser preenchido com as intenções do leitor, com sua reserva bibliográfica.

                Esta variação ao conceito de texto amplia na exata medida em que a leitura proposta não finda a cadeia de significados, ou funda verdades, ou legaliza a voz do colaborador. A perspectiva de nossa leitura é de mais uma entre as múltiplas interpretações que podem ser estabelecidas. Desvia-se de uma leitura unitária e seqüenciada, por ocorrer neles uma fragmentação temática e uma combinação de vários tipos de discursos que frustram uma leitura homogeneizadora. Nos propomos a fundar uma leitura fragmentada aonde os textos da colaboradora é um texto a mais (inteiro e coeso), posto em diálogo com outros textos: Foucault, Eliade, Cassirer e outros. São estes os parâmetros assumidos aqui para o posterior capítulo da leitura.

 

TEXTO/ENTREVISTAS

 

Maria de Jesus Sarmento

Nascida em 08 de outubro de 1941 no município de Humaitá-AM (beiradão). Pais: Jorge Nunes Sarmento e Davina de Souza Prazeres. Tem 58 anos e vive a 18 anos em Porto Velho. Vive maritalmente com o Sr. Domingos Miranda Leão como quem teve doze filhos, oito vivos e quatro falecidos. Trabalhou sempre na roça ou m casa. Sabe apenas assinar o nome. Denomina-se católica e integrante do movimento da Renovação Carismática.

 

            Sou filha de cearense com amazonense. Me criei no interior no município de Humaitá. Vivi sempre trabalhando na roça com os meus pais. Nós somos oito irmãos ... cinco mulheres e três homens. Com dezessete anos me casei ... fui construir minha vida com o meu marido ... lutando sempre na roça. Passei um ano para ter filho ... tive doze ... mas só tenho oito vivo. Um que tinha vinte e um anos ... ele morreu em Brasília e os outros morreram ainda pequenos. Os outros filhos ... tem um no garimpo ... outro em Humaitá que é operador de máquinas pesadas ... um outro na TRANSPEL e o caçula com dezoito anos que está comigo ainda. Sou avó de quinze netos. Tenho um marido que é um amor de pessoa ... são trinta e oito anos de casados. Tenho cinqüenta e sete anos. Vou levando a nossa vida inté quando Deus quiser.

            Um dia ... nos meus treze anos ... minha mãe foi visitar a filha de um primo meu que estava doente e piorando! A menina só tinha três meses. Deus me tocou (1) ... eu disse: “Mamãe vou ver essa criança.” Cheguei lá perguntei pra Luzia como a menina estava. Ela disse: “Ah! Minha filha está tão mal.” Eu disse: “Tu quer que eu reze nela?” Ela olhou para mim ... achou graça pensando que eu não soubesse de nada. Foi a primeira criança que atendi em reza. “Tu vai rezar na minha filha?” Eu disse: “Tu quer tua filha boa?” Ela disse: “OH Maria!! Eu quero ... é uma benção.” Eu: “Espere ai.” Peguei um ramo e rezei. Naquele momento ... Jesus me tocou e eu disse: “Se for pra ela viver ... ela vai sobreviver.”

            Terminei de rezar e fui me despedindo. Luzia perguntou se eu voltava mais tarde e eu disse que sim. Já estava no caminho quando ela me chamou: “Maria vem cá! Graças a Deus minha filha vai ficar boa!” Eu: “ Mais já?” “Ela não pegava o peito e agora já está mamando. Quer ver? Volta.” Eu voltei e vi. Falei: “Pois é ... já que Deus me deu esse DOM então tua filha vai ficar boa. Mais tarde eu volto.” De tarde ... custei um pouco a ir. O marido dela foi logo me chamar. Tornei a rezar e graça a Deus a menina ficou BOAZINHA. Hoje em dia ela já casou ... tem inté filhos. A mãe da menina foi logo contando pra um ... pra outro: “Olha ... a Maria reza!” Ainda disse: “Mas sou muito jovem.” Ela: “Mas a minha filha não ficou boa? Então continua.” Daí por diante não tinha mais tempo de tanta gente que me procurava.

            A primeira desmentidura que peguei foi no pé de um menino que estava jogando bola no interior onde eu morava. Nunca tinha pegado em pé e nem tinha visto como se fazia. Acho que já tinha uns dezesseis anos. Ele disse: “Maria ... machuquei o meu pé.” Disse: “Vem cá.” Ele: “Não ... maninha!!! Meu pé vai ficar pior do que está. Eu vou ao seu Abel pegador.” Eu digo: “Vem cá menino.” Ele veio ... sentou ... peguei o pé ... fui fazendo a massagem e pronto. Daí ele disse: “Oh!!! Graças a Deus. Já posso pisar.” Depois quando o pessoal se machucava ... já ia em casa para que eu olhasse.

            Quando vim morar em Porto Velho a Rosana ... a dona da farmácia aqui perto ... atendeu uma mulher que foi comprar remédio que o médico passou pra filha dela. A menina já tinha feito dezesseis exames ... vivia nos postos de saúde ... nos hospitais ... clínicas particulares e NADA DE FICAR BOA. A Rosana ... disse: “Olha essa tua menina não é para médico curar. Vai ali na dona Maria que tua menina vai ficar boa já ... já.” Essa criança chegou numa febre tão alta! Mandei a mulher sentar e rezei na menina. Foi incrível! Acabei de rezar a febre foi embora. Agora sempre que precisa essa mulher está aqui. E foi se espalhando. Já veio aquela e outras mais. E assim foi minha vida (2).

            Foi ... DEUS ... NOSSA SENHORA E O DIVINO ESPÍRITO SANTO que me tocou e me deu esse DOM. Porque sou muito humilde ... não tenho dinheiro para ajudar as pessoas. Ajudo curando. Os adultos ... as crianças vêm doentes e graças a Deus ficam boas. Rogo muito a Deus e participo da Renovação Carismática. Pedi o DOM da sabedoria do Espírito Santo para a cura. Sou pobre mas feliz.

            Sou devota de Jesus Cristo ... do divino Espírito Santo e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Rezo para os outros santos mas me sinto mais feliz quando rezo para Deus ... Nossa Senhora e o divino Espírito Santo. Isso desde que comecei a participar da carismática. Antes rezava só para Jesus Cristo ... pra Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

            Sempre rezei para Jesus Cristo. Para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro comecei a rezar quando minha irmã foi me visitar no interior onde eu morava. Ela me deu um catecismo para ser rezado toda a terça-feira para a Santa. Foi quando comecei minha devoção. Eu comecei a rezar pra Nossa Senhora do Rosário foi depois de sua aparição em Borbas. Foi aí que comecei a minha devoção da reza do terço. A Santa apareceu dia dois de março em l950 no município de Borbas no Amazonas. Meu marido era solteiro na época e foi lá. Ele me contou. A Santa apareceu para um homem que não sabia ler e nem escrever. A Santa pediu para que todos rezassem o terço nas suas casas ... disse muitas coisas boas para a nossa vida. Depois que ela apareceu foi uma religião muito boa ... todo mundo se converteu.

            Ela apareceu na beira de um igarapé. Chegava na beira do igarapé (3) e atravessava para o outro lado onde havia uma cruz no lugar da aparição. Todo mundo que ia pagava seus pecados. Tem muita gente que tem esses pecados mortais que faz virar animal (4) ... porco. Meu marido me contou que pagavam mesmo os pecados. Todos os que iam se ajoelhavam.

            Aos pés da cruz ... ajoelhavam-se todos que iam (5). Meu marido passou seguramente uns quinze minutos lá ... ajoelhado sem ver a luz do dia e pagou os pecados. Havia ainda a igreja da santa ... parte dela era sobre o igarapé. Ele pensava: “Quando chegar a igreja eu me acabo.”

            O lugar era cheio de troncos de pau grossos derrubado porque lá funcionava uma serralheira. Eles se ajoelharam num desses troncos pra acompanhar o terço ... e foi do princípio ao fim e não sentiu se quer uma coceira no joelho. As pessoas vinham de toda parte e era como se todo mundo já se conhecesse (6). Era a maior alegria do mundo. Ainda convidaram eles para serrar madeira mas eles já estavam comprometidos de vir trabalhar num seringal aqui próximo a Humaitá. Depois de um tempo o homem que viu a santa arrumou uma mulher. E o negócio parou. As pessoas já foram largando a devoção vindo embora ... meu marido foi um. Lá em casa nós não tivemos a oportunidade de ir até Borbas porque o ganho era pouco ... mas os vizinhos foram. De volta eles disseram que era uma religião pra lembrar mais de Jesus ... pra rezar o terço nas casas. Aí eu comecei.

            Meu pai era muito sabido. Eu tenho essa tristeza em mim de não saber ler ... escrever ... sei mal riscar o meu nome. Meu pai não deu sabedoria pra mim. Naquele tempo os pais não queriam que as filhas soubessem escrever porque iam fazer carta pros namorados. Só ensinavam os filhos. Naquelas imediações não tinha quem soubesse rezar o terço. Um dia falei pra mamãe: “Deus e Nossa Senhora vão me ajudar a aprender a rezar o terço.” Eu tinha uns treze anos. Ela ficou muito contente. Mamãe era muito católica ... muito devota ... sempre teve vontade que o terço fosse rezado em casa. Minhas irmãs não se interessavam de rezar o terço. No interior não tinha ninguém que nos orientasse. Íamos de ano em ano em Humaitá pros festejos de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Eu fiquei com aquela vontade me tocando. Um dia me ajoelhei e rezei o terço. Daí por diante eu era chamada para tirar o terço nas casas das minhas tias dos vizinhos. E assim foi nossa religião.

            E até hoje ... a mais importante das minhas devoções é A REZA DO TERÇO. Para mim a melhor coisa na angústia ... na aflição é dobrar os joelhos ... conversar com Deus. Pedir a Ele ... Nossa Senhora e o Divino Espírito Santo que ilumine um bom caminho para mim. A força que tenho recebi de Deus rezando o terço. Quando os meus filhos saem e não chegam ... o meu marido está custando ... não chega ... os filhos de minha irmã passam da hora de chegar. Eu digo: “Vamos rezar o terço? Que com fé em Deus eles chegam já.” Nós nos concentramos bem e rezamos. Rapidinho a notícia da chegada deles vem.

            Rezo todo o santo dia o terço. Às vezes rezo nove horas da manhã ... ao meio dia ... seis horas. A nossa coordenadora da carismática falou que o horário bom de rezar é ás nove horas da manhã ... ás doze horas e três hora da tarde. Mas quase não rezo. O meu costume ... o meu horário é rezar às doze horas e seis horas. Às vezes ... estou rezando chega uma pessoa ... eu digo: “OH! JESUS perdoa. Vou atender essa pessoa que o Senhor mandou. Já volto pra terminar o terço.”

            Uma bondade da cidade é a igreja. Porque no interior era difícil. Sempre fomos católicos mas só tem três anos que estou na carismática. Depois que entrei é difícil perder uma missa. Não digo que vou todos os domingos a igreja. Às vezes tenho Seminário da Renovação Carismática. Mas se não for isso ... posso estar doente ... eu digo: “Jesus! Me cura que quero ir a igreja.” Já fico boa. A carismática me trouxe muito amor ... muita força de Deus. Posso está na maior aflição sem nada pra comer em casa ... rogo a Jesus e sempre aparece alguém. É um filho ... é uma irmã ... é uma pessoa que bate a porta que vem trazendo alguma coisa.

            Eu tenho pra mim que tudo o que eu faço Deus está comigo. Recebi o batismo no divino Espírito Santo num seminário que participei da carismática. Antes de começar as orações ... eu me retirei pra rezar um terço aos pés de Nossa Senhora Das Graças. Naquilo em que eu rezava começaram a louvar. Começamos de oração em oração e Deus me tocando ... me tocando. “Tu hoje vai repousar no divino Espírito Santo.” Eu já havia repousado antes mas não teve a força que senti agora. Uma força que me tocava “Tu vai ser renovada ... encharcada pelo Espírito Santo. Não perde essa oportunidade.” Quando nós fizemos um círculo de oração eu segurei na mão do meu padrinho. eu pedia: “Segura! Segura! Segura!” E apertava a mão dele.

            Uma senhora foi tocada também ... na banca de livros de cantos ... dos terços. A voz dizia a ela: “Vai! Vai! Vai!” Ela dizia: “Mas meu Deus para onde eu vou?” “Vai.” Quando ela chegou perto de mim. A voz disse: “Abre os braços.” Ela abriu os braços ... eu fui dobrando e ela me agasalhou. Quando terminou a oração ela me contou essa História e voltou pra banca. Foi tão bom que se eu pudesse ficaria ali ... no repouso do Espírito Santo. A voz me dava o DOM da cura dizendo: “Quando as pessoas forem em tua casa ... tu ajudas ... tu atendes.” Tem dia que vem bastante gente em casa. Não tenho tempo pra tomar banho ... pra fazer almoço. E a voz dizia que eu não recusasse ... não afastasse as pessoas. Quem vai num seminário gosta. Muito bonito as orações.

            Gosto de rezar nas pessoas as cinco e meia ... antes do horário da minha devoção. Mas elas vêm às nove horas ... às oito do dia eu recebo e vou logo avisando do horário pra da outra vez vir certo. Mesmo assim ainda me empaio com os que não sabem do horário. Às vezes chega gente desesperada ao meio dia ... às nove horas da noite. Sei que não é horário pra rezar mas quando é uma criança passando muito mal ... a pessoa mora longe ... eu atendo. Mas não gosto de rezar no Domingo ... não me sinto bem ... tenho pra mim que não serve a reza.

            Não cobro nada pela reza. As pessoas dão as coisas de livre vontade. “Dona Maria quero dar isso para você.” Eu digo: “Já que você quer dar um agrado ... eu recebo.” Mas eu não peço. Porque se cobrar ... a pessoa está pagando por reza ... e pra mim reza paga não serve. Agora pra desmintidura ainda digo: “Para desmintidura se você quiser dar algum dinheiro ... da livre vontade ... eu aceito.” Porque a desmintidura não é igual à reza ... pertence a outra coisa.

            Quando vou atender uma pessoa com desmintidura ... ela diz: “Dona Maria está doendo as minhas costas ... a costela ... meu peito ... está doendo o meu joelho. Fui ao médico. Ele diz que não tem nada e está inchado.” Vou pegando ... e conheço se os ossos estão no lugar (7) ou não ... pelas juntas que estão afastadas ... faço massagem e a pessoa fica boa (8). Tem um senhor que matou um pintinho e foi desmontando aquelas juntas tudinho. Depois ele foi colocando no lugar. E foi assim que ele aprendeu. Eu não. Percebo porque é um DOM que Deus me deu ... ninguém me ensinou (9).

            Se a pessoa chega doente ... concentro-me em Deus e digo as palavras que lembram que é Jesus quem cura. Pra vento-caído eu rezo:

 

“Jesus ... me curai essa criança de vento caído .... vento virado ... mal olhado com os poderes de Deus e da Virgem Maria assim como tu andavas no mundo ... Jesus ... tu curavas os cegos ... os aleijados. Então cura essa criança (10).”

 

            Em seguida ... conheço o Pai nosso ... Ave Maria ... Santa Maria e Creio em Deus pai. Para espinhela caída rezo:

 

“Senhor tenha compaixão ... alevantai essa espinhela dessa pessoa. Cura pra mim. Em nome de Jesus. Pai ... Filho ... Espírito Santos amém.”

 

            Aí rezo ... o Pai Nosso ... a Ave Maria e Santa Maria. As minhas palavras são essas ... mas tem gente que reza diferente. Quando entrei na carismática o nosso coordenador disse para pedirmos o DOM de cura ao divino Espírito Santo. E rezássemos só as palavras do Pai Nosso ... Ave Maria e Santa Maria e lembrássemos em palavra de que quando Jesus andava no mundo Ele curava. Antes de participar da Carismática eu também pedia o DOM a Jesus para curar aquela pessoa de espinhela ... vento caído ... quebranto. Na hora da reza na pessoa me palpitava aquelas palavras que eu dizia.

            Depois que entrei na carismática não lembro mais dessas palavras. Esqueci mesmo. Tenho comigo que as palavras não pertenciam a Deus (11) e Ele tirou do meu sentido (12). Porque se não eu voltava a lembrar delas. O coordenador disse que as palavras pertenciam à macumba ... não pertencia a Deus ... que a cura por Jesus ... pelo o divino Espírito Santo já era as palavras que eu falo agora. Pronto ... esqueci mesmo.

            Na minha sala tem essas imagens que vem dos antigos ... era dos avôs do meu esposo. Deus deixou essas imagens pra nós fazermos as devoções para Ele. Não vejo Deus ... mas sinto Ele quando faço as minhas devoções. Tem gente que diz que as imagens pertencem à casa de macumba ... eles têm as deles lá. Eu tenho as minhas pra louvar a Deus. As imagens têm fitas que as pessoas que fazem promessas na hora da aflição trazem e eu coloco. Tem na Nossa Senhora do Bom Parto que é das mulheres que vão ganhar nenê e fazem promessa. Ganham o nenê delas rapidinho e trazem a fita e eu ponho.

            De São Raimundo pelas graças alcançadas. Da Nossa Senhora das Dores é que meu marido era doente no tempo de criança e a mãe dele fez promessa ... ele ficou bom. Meu marido sempre bota a fita. São Francisco de Assis tem um anel de terço que ganhei do meu neto. Tem Nossa Senhora do Rosário a quem eu tenho devoção.

            Uma vez sonhei com a imagem de Cristo. Depois que entrei na carismática. Jesus dizia que eu tivesse as minhas devoções ... de rezar para outras imagens ... mas que não esquecesse de rezar pra Ele, Jesus Cristo. Ainda mais quando estivesse perto da Semana Santa. Eu rezava mais para as imagens do que para Jesus. Agora nós estamos rezando o terço em família para Ele.

            Ninguém da minha família rezava. Nem parente ... nem irmãs ... nem mamãe e nenhum dos meus filhos aprenderam ... porque eu não sei ensinar. Às vezes ... o meu filho caçula quando pequeno ... perguntava: “Mãe como a senhora coloca no lugar as juntas das pessoas? Me ensine.” Eu não sei ensinar ... não sei explicar. As pessoas dizem: “Dona Maria me ensine a benzer porque moro longe ... no interior.” Não posso é DOM. Até o remédio caseiro ... vem de meu DOM. Comprei um xarope ... para o meu menino e não serviu. Peguei e fui fazer um xarope. Agarrei umas folhas de hortelã ... alfavaca ... vagem de jucá ... alho e fiz aquela misturada. O menino tomou e não é que ficou bom. Daí eu ensino e faço o xarope para as pessoas que me pedem e o chá do hortelãzinho pra criança com cólica. Mas é só isso ... não receito mais nada.

            Eu não me vejo como benzedeira. Sou uma pessoa que ajuda outros. Quando meus filhos estão doentes digo: “JESUS, CURA!!! Porque nós moramos perto de um hospital ... mas não adianta.” Não gosto de hospital ... porque não gosto de ver ninguém sofrer e não poder fazer nada. Sempre vou visitar mais venho sofrida ... sofrida ... sofrida. Aquele cheiro de remédio me deixa tonta. Nos presídio também não gosto de ir. Sei que eles estão lá porque erram e que estão afastados de Deus. Se eu vejo passar na televisão cenas de violência venho e desligo.

            VIXE MARIA!!! Eu era muito procurada no interior. Quando cheguei na cidade a minha irmã mais velha que já morava aqui começou a mandar gente para que eu rezasse e essas pessoas já foram falando para outras. Com o tempo já foi morrendo os benzedores que as pessoas conheciam aqui ao redor. Morreu dona Cotinha ... dona Dadá ... o seu Lulu. Agora que eu vou ser procurada. Vem gente de bicicleta ... de carro ... a pé. Quando estou fazendo as coisas a cigarra toca ... batem palma. “Dona Maria ... não lhe conheço. É a primeira vez que venho ... me informaram que a senhora pega muito bem desmintidura que a senhora benze.”

            Teve um caso de um benzedor. Dizem que ele rezava muito bem para tudo que era enfermidade. Chamavam ele de curador. Um dia rezou numa menina que teve derrame. Depois ele começou a sentir tudo o que a menina sentia. Era uma dor na cabeça igual a que a menina sofria. O filho dele veio aqui em casa pedir que eu fosse aqui no hospital João Paulo II ver o pai dele. Fui ... visitei ... não acertei rezar o terço. Quando o filho dele veio saber o que eu dizia ... falei: “É tarde demais ... ele está nos poderes de Deus. Não tem mais jeito ... só se Deus fosse lá e tocasse nele. Porque para Deus nada é impossível.” Deus ia levá-lo ... era a hora dele. Não procuraram um benzedor mais cedo para rezar. Se não fosse a hora de Deus levar ... ele tinha ficado bom.

            Tenho pra mim que a pessoa deve fazer o bem mas tem que ter aquela experiência de Deus. Se fizer uma reza e não se lembrar de Deus ... essa cura não é da parte dEle. O curador rezou na menina e o mal passou para ele ... Deus não o defendeu. Então a cura do curador já não era de Deus ... porque se fosse Deus o livrava.

            Tenho uma experiência muito grande com Deus. E acredito que pelos benefícios que faço às pessoas o meu cantinho já está preparado na glória dEle. Satisfaço-me em saber que uma pessoa veio doente a mim e ficou boa. DEUS CURA AS PESSOAS! Não eu! Cansa de chegar gente aqui para que eu reze e digo: “Com a graça de Deus você vai ficar boa.”

            Participo do centro de oração na segunda-feira. Lá nós rezamos tanto pelos nossos parentes quanto pelos dos outros. Tem uma senhora que está a seis anos separada do marido. Mas ela tem vontade que ele volte ... ama muito ele ... mas ela sabe que ele não volta. Tem uma outra senhora que sempre que está muito adoentada diz para eu orar por ela. Sobre um casal que o marido estava se destruindo ... não queria mais a esposa em casa. Ela me deu o nome dos dois e nós fomos louvando a Deus fazendo orações. Um dia desse ela foi agradecer.

            Do filho de uma senhora. Ele era muito sabido, mas ficou desemprego. Em casa chegava quebrando tudo. Não queria saber de nada nem da filhinha dele. Ele fica aborrecido quando a menina chega perto. Ficou desesperado. A mãe deu o nome dele e pediu que nós fizéssemos uma oração ... para Deus dar o consolo ... porque o inimigo estava destruindo a vida dele (13). Ia para o serviço dele e vinha alegre e satisfeito. E agora ele não quer saber de nada. Que Deus desterre o inimigo (14). Num tempo desse ela foi agradecer que o filho já estava calmo ... já tinha um serviço.

            Teve outro que veio sexta-feira. Ele tem um lanche e um dia foi uma senhora lá e disse: “Ah! Jéferson você está tão bem ... pegando tanto dinheiro aqui. Enquanto eu estou sem emprego. Não sei como vai ficar minha vida.” E foi embora. Passou uns três dias ... ele começou a ficar aborrecido com a mulher em casa ... não tinha mais ânimo e nem paciência de ficar no lanche. A vida dele era dormir. Pedi o nome dele ... fiz uma oração. Tornei a fazer oração na igreja. Outro dia ele veio aqui comigo ... para dar os agradecimentos ... porque ele já estava disposto de novo para trabalhar.

            Tem algumas mulheres que vem trazer ISSO. Ela não vem na graças de Deus ... esse tipo de gente fala alguma coisa e pronto. Tudo dá para trás. Peço muito a Deus que não me deixe cair ... rezo para São Gabriel ... São Miguel Arcanjo que o inimigo fique bem longe de mim. Tenho um filho que não aceita que eu reze. Teve um rapaz que trabalhou com ele na CONSIS ... a mãe dele morreu nesse serviço. Ela foi muito mal tratada. Ela ajudava as pessoas, mas não foi ajudada por ninguém quando ela precisou. Eu digo a ele que Deus ... Nossa Senhora e o divino Espírito Santo vão afastar todo o mal de dentro de casa. Porque não posso parar. É triste ver doentes jogados nos hospitais e não poder fazer nada.

            E toda vez que vou para a intercessão é sempre assim ... pedidos pelo irmão ... pelos que estão jogados nos leitos dos hospitais ... para que os médicos atendam melhor ... pelos drogados ... pelos que bebem ... os que têm o coração duro ... não pertencem ainda a Deus ... que Jesus busque essas pessoas e que eles também se lembrem de Deus ... pra que eles saiam daquela arrumação. Graças a Deus estou feliz ... BASTANTE FELIZ! Porque posso dizer que tenho fé em Deus ... sinto Ele e o divino Espírito Santo comigo.

            Eu me sinto desesperada quando eu erro a reza do terço e sei que aquela pessoa não tem mais jeito. É Deus que vem dizer que não é da vontade dEle ... já chegou a hora dEle levar a pessoa. Aí não continuo a rezar. No meu desespero volto a minha mente “É Jesus ... já que chegou a hora ... Tu precisa dele aí não posso fazer nada.” MAS EU NÃO ACERTO A REZAR O TERÇO de jeito nenhum. É Uma reza que não se endireita. E pra outros a reza sai vai tão bem.

            Morava um benzedor em Humaitá ... ele até já morreu ... tinha o mesmo sistema de reza. Ia gente daqui de Porto Velho até Humaitá pra que ele rezasse. Se ele reza-se na criança e disse-se que não tinha jeito ... não tinha jeito mesmo. Ele dizia que errava na hora da reza. E eu tenho isso comigo.

            Um dos meus sofrimentos na vida foi ter perdido meu filho e meu pai. Meu pai morreu no dia 26 de fevereiro quando foi no dia 26 de outubro do mesmo ano meu filho morreu do mal de câncer. Ele levou uma furada no pé e ofendeu os nervos. Nós viemos pra cidade atrás de tratamento ... daqui ele foi pra Brasília. Ainda chegaram a cortar a perna dele ... mas Deus não quis a saúde dele e o levou. Mas estou satisfeita por que tenho comigo de que ele está com Deus.

            Não sou de me lembrar de sonhos mas teve um antes do meu pai morrer que teve sentido. Sonhei que perdia minha aliança. Depois contei o sonho para uma senhora que me disse: “Ah ... maninha você vai perder alguém da tua família.” Meu pai ainda andava ... conversava ... quando ele cai de cama não passou dois meses ... ele morreu.

            Na época a minha vida se descontrolou ... deixei minha família ... acho que o meu marido pensava que eu tivesse outro homem. De manhã chegava em Humaitá ... a tarde estava aqui em Porto Velho no hospital. E assim os dias se passavam. Quase enlouqueço ... com a morte do meu pai e do meu filho. Quando a minha mãe morreu já pedi a Deus que não me deixasse ficar tão desorientada. Ela sentia uma dor nas pernas. O médico disse que era reumatismo. E fura para reumatismo ... fura para reumatismo. Quando ela ficou de cama foi um mês. Passávamos a noite junto dela. Eu e minhas cinco irmãs fazíamos rodízio ao pé da cama. Ela não dormia e nem deixava a gente dormir. Até que ela inspirou no dia sete de setembro. Já fez seis anos. Papai vai fazer dezessete de falecido.

            Pelos meus pais que estão plantados aqui ... eu fiquei. Digo para os meus parentes: “QUERO QUE VOCÊS ME DEIXEM PLANTADA AQUI ... ONDE MEUS PAIS ESTÃO ATÉ NOS ANOS DA ILUMINAÇÃO DE GLÓRIA (15).” Tenho fé em Deus de ficar ao lado deles. Porque os meus pais são tudo na minha vida. Os filhos de hoje não sabem agradecer a vida dos pais. Querem matar os pais. Quando os meus filhos dizem: “Mamãe” eu digo: “Ah! Que nome abençoado.” Quando se tem uma dor ... só de a mãe falar ... o sofrimento passa. É muito bom. E não ter pai é muito ruim.

            Eu só vim pra cidade mesmo a bem de saúde ... desde a primeira vez. Minha mãe dizia: “Minha filha ... tu não conhece Porto Velho ... nem Manaus ... nenhuma cidade. Vamos em Porto Velho?” Nunca tive vontade de vir ... de sair do interior. Eu trazia meu marido mas ele não se acostumava com o clima da cidade. A gente nasceu no interior e é difícil de se acostumar. Implorei a Deus e Nossa Senhora daí meu marido não demorou e voltou ... conseguiu um emprego ... foi buscar as nossas coisas e hoje estamos aqui. Faz vinte e um anos.

            Foi também no tempo em que um dos meus filhos começou a trabalhar com seu Camelo e conseguiu essa casa aqui. Esse seu Camelo teve uma morte feia ... foi morto afogado na piscina da casa dele. Tinha muito ouro guardado em casa. Os assaltantes cobiçaram e mataram ele. Foi triste. E meu filho foi trabalhar com esse homem na queimação do ouro. Nós morávamos de aluguel.

            Um dia meu filho disse: “Mamãe ... a senhora arrume as coisas que hoje comprei uma casa pra morarmos.” Faz dezessete anos que moramos aqui. Por uma parte é bom aqui mas por outra é muita violência. Me preocupo DEMAIS com os meus filhos ... quando saem ... se não chegam. Só sossego se eles estiverem em casa. Um deles queria estudar a noite para trabalhar de dia mais não deu certo. Deus não quis que ele estudasse a noite. Rezo pela boa sorte dos meus filhos.

            Agora no interior é bom não precisa se preocupar ... porque violência não tem. Só quando a violência vai daqui pra lá. Uma filha minha que mora acima de Calama conta que apareceu um fugitivo da cidade numa casa que fica distante das outras. Esse homem chegou e quis agredir a mulher. A valença foi que o marido dela estava pescando e voltou logo. O fugitivo falou: “AH! Eu vim foi fugido da Porto Velho.” E ia agarrar ela ... o marido chegou. No Amazonas onde nós morávamos ainda é bom. VIXE MARIA!! Tenho vontade de voltar se meu filho quisesse ... eu ai com todo o gosto ... porque lá não tem violência... vive-se melhor...

 

LEITURA

 

Leitura/Maria de Jesus

 

1

Deus me tocou (1)

 

            Deus toca. Um gesto do deus que concede ao humano um encontro. Não um encontro de peles; e sim de uma aproximação de duas realidades opostas, dualistas incapazes à conciliação a não ser pela interseção mediadora de Cristo: a realidade divinal versus a realidade carnal humana. Como na pintura de Miguelangelo, A Criação de Adão, Jeová, não toca. Ele roça, ele aproxima-se do humano para lhe transmitir algo. Não é um encontro de iguais, é um gesto do Todo-poderoso, de exercício de poder que separa o criador e sua criatura. Neste sentido CAMPBELL (1997) desenvolve a concepção de Cristo ‘filho unigênito de Deus encarnado e simultaneamente Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem’ que é considerado em todo o mundo cristão como um milagre – a manifesta são do todo-poderoso, ao passo que, em outras visões místicas a realidade existencial do ser e de verdadeiro deus e verdadeiro homem num fluxo de disseminação das virtudes morais-religiosas. Somente Cristo, “pode dizer: ‘Eu e o Pai somos um (Jo. 10,30)’ [...] Através da humanidade de Cristo, relacionamo-nos com ele; através de sua divindade, relacionamo-nos com a divindade”.(1997: 238) Cristo atravessou os portais do paraíso, vigiados por anjos, a fim regatar para a humanidade a vida imortal.

            O encontro entre Jeová e o homem, caso ocorresse, feriria em sua onipotência, a realidade divina e destruiria a humana já que é dito: “Ninguém pode ver-me e continuar vivo” (Ex. 33, 20b). A fissura incidiria intimamente nas realidades, de tal maneira que, não mais poderia falar de um Deus inalcançável e distante, ausente às coisas humanas; e do humano proferir sua constante busca da redenção que o levaria de volta ao paraíso, a vivência divina, a árvore da vida que lhe conceda a eterna.

            A compreensão de Jeová devassa e submete o outro sob seu junco, moldando-o a sua imagem e semelhança, integrando-o em seus limites. Pois neste ato se renova a dependência de sua existência. O que seria de um a Deus sem quem o adore? Continuaria Jeová sendo deus? Se ao “tocar” Jeová resgata o outro da inexistência, do caos, este momento também Deus tem perpetuado sua própria permanência como deus. Qual é o primeiro mandamento de Jeová? Amar a Deus sobre todas as coisas. É necessário que o amem sobre todas as coisas, sobre todos os outros seres. Neste prazer do acariciar e germinado a semente sagralização do mundo.

 

2

Ossos estão no lugar (7)

 

            Maria de Jesus cria uma compreensão sobre a ordem óssea baseada na intervenção de Deus Percebo porque é um DOM que Deus me deu ... ninguém me ensinou (9). Este conhecimento coeso do osso no lugar, da estrutura óssea, remetesse a uma organização mítica, uma virtualização de um espaço sagrado concernente ao interior do ser. Esta experiência Maria de Jesus contrapõe ao reconhecimento feito por outro benzedeiro que se valeu de observação para a aprendizagem. Logo a ordenação espacial adquirida pelo benzedeiro, não tem a mesma base criacional de que se utiliza Maria de Jesus, tão pouco as suas preleções que utilize para a cura. A consagração de seu Dom por intermédio da influência do Espírito de Deus em sua vida permeia todas as estruturas textuais de entendimento - sobre as orações e a corpo ósseo. E conheço se os ossos estão no lugar ou não pelas juntas que estão afastadas ... faço massagem e a pessoa fica boa (8) o reconhecimento da modificação da ordem óssea segue sempre a como base à ordem primordial.

 

3

Ele tirou do meu sentido (12)

 

            A narradora segue a mesma acepção de classificação da polarização – bem e mal - “tudo o que afasta os homens de Deus é uma manifestação do Diabo”. É o caso do antes de assumir a verdadeira palavra de Deus a oração poderia funcionar para as intenções, porém sua proveniência não era da verdadeira. “Ora, dado que, para a concepção mítica fundamental, a individualidade humana não é algo simplesmente e imutável, mas algo que, a cada passo,” (CASSIRER 1992: 69)

            A nova experiência vivenciada por Maria de Jesus operou modificando sua construção textual, de discurso sobre o que é o seu passado, recriando-o conforme as vivências religiosas, num movimento instável e mutável em uma nova fase decisiva da vida, ganha um outro ser, um outro eu; tenho comigo que as palavras não pertenciam a Deus (11). Nesta revelação, numa releitura, ocorreu um mergulho de sua palavra, numa palavra-ação provinda do Deus-Criador. As palavras pronunciadas nas formulas de cura converteram-se numa espécie de originadas na palavra-essência primordial assim como Tu andava no mundo ... Jesus ... Tu curavas os cegos ... os aleijados. Então cura essa criança (10). Potência segunda ligada a uma potência primeira onde todo o ser e todo acontecimento ganham reminiscência da origem fundante.

            Segundo CASSIRER:

 

As religiões cuja imagem do mundo e cuja cosmogonia se alicerça num contraste ético fundamental, o dualismo entre bem e mal, veneram na palavra falada a força primordial por cujo único intermédio o caos pode transformar-se em cosmo moral-religioso. (1992: 66)

 

            Maria de Jesus elevou a palavra de cura a esfera religiosa do sagrado, pronunciando-a como originária do poder do Deus-Criador. Lançando a palavra anteriormente usada para as curas, num espaço profano; separando o mundo gerado a partir da palavra criadora, do caos, ausência do sagrado. Maria de Jesus apresenta-se como ser, instrumento utilizado por Deus, veículo de seu poder físico-mágico encerra na palavra.

 

4

Inimigo estava destruindo a vida dele (13)

Que Deus desterre o inimigo (14)

 

            O Inimigo é a grande ameaça a ruptura da fidelidade ao Senhor e pondo a perder a alma do povo escolhido que não aspiram mais a vida em seus corpos, mas sim a possibilidade de vida eterna, o paraíso. A destruição que o inimigo realiza na vida da pessoa é a sombra do que ele pode realizar com a alma grande obstáculo à vida eterna.

            E a força maléfica gratuita se manifestou sem qualquer finalidade ou racionalidade.

            Encontramos aí uma metáfora sobre a existência do Mal e do Bem, contínua àquela ameaça a vida eterna apresentada pela tradição cristã: o Mal como o não-ser, como coisa fugidia, "como ‘avesso’, ‘crespos’ do homem” , como uma face não ainda iluminada pela luz do Bem, que pode vir a se manifestar em qualquer um a qualquer hora.

            Este pensamento coloca-nos sempre diante do incerto uma vez que o “inimigo” permanecerá em tudo o que existe como um princípio negativo que disputará com princípio positivo – Deus – com a sua outra face em busca de adeptos já que os limites da atuação de Deus são respectivamente os limites do diabo.

            A realidade dualista que apresenta a eterna batalha entre Deus e o Diabo nem sempre foi existente. (NOGUEIRA 1986) Foi consolidada com cristianismo do séc. II. Jeová era até então o deus hebreu, todo-poderoso, senhor do Bem e do Mal, que enviava como punição os rouach raha – espíritos malignos. Os diversos contatos dos hebreus com outros povos e tradições levaram a complexificação da demonologia em sua religião. Até então o mal na tradição bíblica hebraica é algo indefinido, há uma personificação do mal em uma determinada personagem. As raras alusões que possam aparecer na literatura do Antigo Testamento representam o empenho judaico em manter o monoteísmo em meio a tantos deuses enredado. Deus é poderoso, onipotente, onisciente, onipresente, tudo o que acontece é por sua vontade. Não se admitia um deus com estas características tenha outros adversários paralelos ao seu poder.

 

                O diabo no Novo Testamento, como nas crenças judaicas tardias, é assistido por uma multidão de demônios inferiores que tentam os homens, impelindo-o a rejeitar Jesus, ao mesmo tempo em que não param de os afligir com sofrimentos físicos. A ação dos tentadores é exercida principalmente na esfera da religião romana oficial. Pois os deuses desta religião são de fato demônios a serviço de Satã. (NOGUEIRA 1989:19)

 

            Se assim pensarmos, estaremos sempre diante do incerto, uma vez que o diabo viverá em tudo o que existe — seres inanimados e animados — sendo um princípio negativo que disputará com o princípio positivo — Deus — o território em que poderá atuar. Diante da maldade pura e gratuita, questionamos: aquele ou aquilo que se manifesta bom hoje poderá amanhã estar tomado pelo princípio negativo?

            Se respondermos positivamente, admitiremos a hipótese de que não existe ser consagrado ao Mal, nem encerrado nos limites da razão. Dessa forma, "tudo é e não é", ficando quase impossível separar o falso do verdadeiro, o Mal do Bem. Nesse especular, nessa ausência de verdade absoluta, a vida se torna muito perigosa, porque não há uma lógica no viver, provocando em todos grande desconforto e insegurança.

 

5

Quero que vocês me deixem plantada aqui .... onde meus pais estão até nos anos da iluminação de glória (15)

 

            A narradora faz um apelo nostálgico para o final de sua vida ser re-inserida a família. Juntos, pai mãe e filha, habitarão numa última morada: a terra. Esta vida-além-morte do núcleo familiar conserva-se como num útero esperando germinação para uma vida que ocorrerá “nos anos da iluminação de glória”.

            ELIADE elabora com propriedade esta relação vida e morte:

 

Aquilo a que nós chamamos vida e morte são apenas dois momentos diferentes do destino total da Terra-Mãe: a vida nada mais é que um separar-se das entranhas da terra, a morte reduz-se a um regresso à “a própria Terra. O desejo, tão freqüente, de ser enterrado no solo da pátria é tão-só uma forma profana do autoctonismo místico, da necessidade de reentrar na sua própria casa. (ELIADE 1998: 205)

 

            Desejar este retorno a casa progenitora, é regressar ao princípio, ao calor, ao aconchego, ao berço onde está o começo e o fim de toda a vida: a Terra. A partir da Terra tudo se converte em vida, rebenta para volver quando a parcela de vida nela gerida cessa. Da inerte e do estéril a Terra é transforma em vida.

 

                Que tens em tuas entranhas? Que segredos? Que mistérios? É certo que nos devolves o grão que te confiamos. Mas não nos dá de volta essa semente humana, esse mortos amados que te emprestamos. Será que não germinam nossos amigos, nossos amores, que depositamos ali? Se, pelo menos por uma hora, um momento, viessem até nós! Logo pertencemos à terra incógnita, a que eles já desceram. (...) Só podem estar bem presos, os meus mortos, para não darem nenhum sinal! (...) Como pode meu pai, para quem fui único, e que me amou tão arrebatadamente, não voltar para mim? ... Oh! Dos dois lados, servidão! (MICHELET 1964: 92)

 

            Seja as feiticeiras de MICHELET ou os espíritas americanos do séc XIX de ARIÈS, longe da intenção de aqui repetir o anacronismo, às relações que se apreende são de uma poética do pós-morte.

 

6

E assim foi minha vida (2)

 

            A conclusão de um vivido é a constatação de uma realidade, “e assim e o meu real, são estas as bases da minha existência, de minhas delimitações, o meu espaço de existência, e sua afirmação de existência.” Agastado da luta, se debate em suas estruturas. É seu carcereiro, seu cárcere e redentor. A história de vida e a constatação da estrutura de amarrar, dos vínculos viciosos que se perpetuam no espaço, na casa, na família, na prole, no trabalho, no recontar da linguagem.

 

7

Na beira do igarapé (3)

 

            A travessia realizada para entronizar neste lugar consagrado pela manifestação do sagrado, remete-se ao caminho das águas. A beira do igarapé está a passagem para chegar à outra vertente. Incidindo numa purificação, um mergulho das águas primordiais re-inserindo-se no tempo primeiro da criação, separando as duas realidades: a caótica e a sagrada. É no outro lado do igarapé que Nossa Senhora aparece, é em outro limite que está a porta, a fissura para o princípio gêneseológico, após a passagem, sem ver a luz do dia, emerge a encarnação, o vir a luz do novo homem que ocorre aos pés da cruz: aos pés da árvore da vida do Éden: “a árvore da vida no meio do jardim, com a árvore do conhecimento do bem e do mal. Um rio saía do Éden para banhar o jardim e aí se dividia e formava quatro braços” Gn 2.

            A mesma associação água-árvore encontra-se na tradição judaica e cristã. EZEQUIEL, 47 decresce a nascente maravilhosa que brotava debaixo do templo e que jaz guarnecida de árvores de fruto. O apocalipse retoma a expressão cosmológica e soteriológica do conjunto água-árvore, tornando ainda mais precisa a ligação: “Depois, o anjo mostrou-me o rio da água da vida, claro como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da praça da cidade e nas duas margens do rio encontra-se a árvore, que dá doze colheitas, produzindo os seus frutos todos os meses; e as folhas desta árvore servem par curar as nações” Ap 22 . (ELIADE 1998: 228)

           

8

Aos pés da cruz ... se ajoelhavam todos que iam (5)

 

            Aos pés da cruz todo o viajante se curva ao enigma do portal de abertura e receptáculo do sagrado: um centro do mundo, que se funda como, espaço sagrado assegurando a comunicação entre o céu e a terra:

 

ponte ou a escada pela qual os homens sobem até Deus; (...), é o lugar de passagem entre o Céu, a Terra e o Inferno. (ELIADE 1998: 237.238).

 

            O lugar do cruzeiro remete-se a idéia de imago mundi, não sendo estigma da passagem da divindade, ‘Nossa Senhora esteve aqui’ mas a representação da presença e da permanência do sagrado entre os homens. Uma manifestação que anunciava um hierogamos — comunhão entre deuses e homens, onde o ciclo da lei do eterno retorno é evocado, com a reintegração a imagem primordial do mundo.

            Ao coloca-se aos pés da cruz o peregrino põe-se no “centro do mundo”, na base do trono de Deus, onde ocorre uma abertura de superfície, ultrapassando o espaço profano heterogêneo. Adentra-se a uma nova realidade a terra santa em que a situação de corrupção pelo pecado não mais domina. É restaurado o tempo primeiro (perdão dos pecados).

            Como é indicado por ELIADE (1998) nas citações de inscritos apócrifos: o Apocalipse de Moisés, Evangelho de Nicodemos e a Vida de Adão e Eva; a cruz é feita da essência da vida eterna, da madeira primordial da árvore da vida; através da saga em que a árvore da vida é plantada em três sementes e durante a história de migrações de Israel transforma-se em uma só árvore que tornar-se-á o madeiro da cruz. Em Borbas instaura o cosmo perfeito de regeneração do ser e do vínculo com o sagrado. O mesmo homem que foi abandonado à sorte de seu livre arbítrio, pelo deus criador que se afastou de sua criação depois da vinda de seu filho. É o cordeiro imolado, a oferta perfeita para oblação sacrifical assegura pela cruz a vida eterna aos mortais; estabelecendo-se a conexão entre as três dimensões – céu, terra e inferno.

 

9

E era como se todo mundo já se conhecesse (6)

 

            Nesta re-instauração do lugar sagrado, o centro do mundo, onde esta situada à ligação entre céu e terra, encerra-se o inverso da torre de Babel onde é disseminada por Javé a confusão, a incompreensão entre os homens, após a tentativa humana ambiciosa de alcançar o céu, a morada de deus por seus próprios méritos. Utilizando-se de seus esforços materiais. O homem buscou igualar-se a deus. As equivalências opostas à torre de Babel eram os zigurates – torres mesopotâmicas – que objetivavam alcançar o céu construindo uma ponte de trajeto dos deuses a terra e dos homens aos céus através de sacrifícios oferecidos no alto dos zigurates.

            Esta é especificamente a diferença entre a torre de Babel e a Cruz. Esta última à semelhança do Zigurates é a intersecção entre níveis, realizando uma ruptura, transcendendo o espaço profano diferenciado e introduzindo-se numa terra pura onde os pecados são perdoados.

 

10

Faz virar animal (4)

 

            A metamorfose do ser que comete um ato contra deus e contra sua lei, manifesta a monstruosidade interior do qual o ato é reflexo. Esta mutação para o irracional, o não–humano adquire na narrativa significado de punição contra o ofensor de deus que faz recair todo o peso de seu pecado. Na narrativa o ato contra Deus é identificado como sendo um “pecado mortal”. A mortalidade referendada é a algo que torna humano o ser – a alma – quando esta se torna ou é inexistente só resta o ser animal. A metamorfose expressa correção a imagem exteriorizada que agora terá correspondência com a imagem interna do ser. Esta degradação torna o homem ao estado de alienação a terra.

            Observa-se que o processo inverso, ou seja, a passagem do animal para o humano é compreendida como evolução, uma modificação para libertar o homem de seu aprisionamento a terra. Manter-se de pé e andar é colocar em liberdade as mãos, o espírito, a intenção de pensamento, abrindo-se ao cosmo a Deus. Simbolicamente o homem se abriu, por esse ato libertador, para a noção do estado de desperto de pleno em sua lucidez e entendimento humano.

 

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