E A LUSOFONIA NA INVENÇÃO DO NOVO MUNDO: CONTRIBUIÇÃO DA RADIOFONIA NA DEFESA DA LÍNGUA PORTUGUESA[1]
DEPTO. DE EDUCAÇÃO - UFRPE
Dedicado à Ana Augusta Duarte-Sobreira e ao Prof. Dr. Rui Dias Guimarães
Está escrito no Livro dos Livros que no início era o Verbo, palavra que ao ser encarnada formou o homem e o mundo. Com esta metáfora bíblica, suporte de toda uma filosofia da linguagem, temos ante nós o indicativo do poder criador da palavra.
Na tradição judaica existe uma corrente mística muito conhecida dos antigos portugueses. Trata-se da Cabala que é, na verdade, a ciência do poder das palavras. Os sábios cabalistas afirmavam, com total propriedade, que a palavra criou os mundos e são seus sustentáculos, tal como lemos na Bíblia: “E Deus disse: Faça-se a luz” e a luz foi feita. É, deste modo, esclarecedor que o mundo se fez pelo poder e pela intermediação das palavras.
Assim se expressou Umberto Eco, afirmando: "Primeiro, fala Deus, que criando o céu e a terra diz 'Faça-se a luz.' Só depois desta fala divina 'foi feita a luz. (Gênesis, 1-34). A criação advém por um ato da fala, e só nomeando as coisas que vai criando Deus lkhes confere o seu estatuto ontológico: 'E [Deus] chamou à luz Dia e às trevas Noite [...]. E chamou Deus ao firmamento Céu'."[2]
Segundo os cabalistas, o som das palavras estão estreitamente unidos não só ao significado das mesmas, mas também estão estreitamento ligados à coisa em si. É o que os psicanalistas, na melhor tradição linguística, chamam de significado e significante.[3] Isso porque a cabala "altera, descombina, decompõe e recombina a superfície do texto e a própria estrutura sintagmática, concluindo esses átomos lingüísticos que são as letras singulares do alfabeto, um processo de recriação lingüística contínua", afirma Eco.[4]
A criação do mundo tem como suporte a palavra. Este é um paradigma definitivo. Segundo os psicanalistas que – no dizer de Chaim Katz – fingem ler Freud lendo Lacan, só existe aquilo que tem nome. Pelo menos nisso eles quase têm razão, pelo menos desde o ponto de vista metafísico, se tivessem dito que só existe aquilo que tem letras, conforme está escrito no Sefer Yetzirá, o cabalístico Livro da Criação:
"As vinte e duas letras que formam o vigor após terem sido postas em ordem e estabelecidas por Deus, Ele combinou-as, pesou-as, mudou-as e formou com elas todos os seres que existem, e todas as coisas que deverão ser formadas no futuro."[5]
Deste modo, como aprendemos com a poesia iluminada de Jorge Luís Borges, todo o rio Nilo está contido na palavra Nilo.[6] Também Fernando Pessoa conhecia o valor transcriador da palavra, como demonstrou ao largo de toda sua obra, especialmente em “Mensagem”.[7]
Por outro lado, a Filosofia tem dado sua contribuição ao tema, pois Sócrates afirmou, em “Crátilo”, que a palavra e a coisa formam uma só unidade. O nome e o nomeado (a coisa) têm uma mesma natureza, compartilham da mesma realidade, na afirmação de Crátilo:
"Y esto es muy simple: el que conoce los nombres, conoce también las cosas." [Sócrates responde]: "Quizá, Crátilo, sea esto lo que quieres decir: que, quando alguien conoce qué es el nombre (y éste es exactamente como la cosa), conocerá también la cosa, puesto que es semejante al nombre."[8]
É neste sentido, senhoras e senhores, que devemos entender a importância da palavra, especialmente da palavra veiculada através do seu mais poderoso meio de divulgação, que é o rádio.
A palavra, som articulado que sustenta uma significação, é desde tempos imemoriais, o vínculo que une os homens. Antes de mais nada, o homem para constituir-se em sociedade, deve proceder o intercâmbio das palavras.
Dentre os diversos meios de comunicação de massa, o rádio é o maior e mais importante difusor da palavra posto que é ela (a palavra) – e não a imagem como na televisão, ou as letras, como na imprensa – o suporte e o vínculo da mensagem.
Assim, o rádio se tornou um poderoso meio de divulgação da palavra. Por isso sua missão assume uma importância de carácter civilizatório, o que lhe confere um status tanto político quanto pedagógico. Eleva-se à condição de elemento educador da sociedade, considerando-se a educação em seu sentido lato, isto é, enquanto formação plena do cidadão.
O rádio é intermediário entre os fatos que acontecem no dia-a-dia e o conhecimento dos mesmos por parte do público em geral, especialmente voltado para sua missão informativa. Por ser assim, este meio de comunicação tem uma imensa responsabilidade na “formação estética e idiomática” do cidadão, como afirmou Mauro Guimarães, director do Jornal do Brasil.
O rádio tem uma ligação directa com as populações, especialmente àquelas que não têm acesso a outros meios de comunicação de massa, como a televisão e os jornais. Tanto a televisão quanto jornais e revistas exigem uma atenção concentrada na medida em que é necessário olhar para eles, enquanto o rádio pode ser escutado enquanto se dirige o automóvel, ou se toma uma ducha, ou mesmo às escuras no quarto de dormir, ou enquanto se exerce actividades laborais. Assim o rádio tem a vantagem de ser companheiro do homem em quaisquer momentos de sua vida.
Ademais, o rádio é um fiel aliado quando ocorre falta de energia pois o mesmo continua funcionando onde e quando os demais meios de comunicação sofrem interrupção. A rapidez com que se produz a notícia, através do rádio, coloca-o na vanguarda do jornalismo pois os jornais e as revistas não podem divulgar o fato em cima da hora, e a televisão para fazer o mesmo necessita de um complexo aparato tecnológico e humano muito mais amplo que o rádio.
Mas, em contrapartida, o rádio não pode contar com o suporte auxiliar da imagem. Entretanto, esta lacuna é compensada através do recursos criativo da palavra e neste particular a língua portuguesa é das mais ricas e variadas. O universo vocabular da última e mais preciosa flor do Lácio possibilita aos cultores da palavra falada uma quantidade extraordinária de recursos linguísticos para ensejar, no ouvinte os mais variados sentimentos e evocar as mais diferentes imagens que a alma humana pode conceber.
Devemos ressaltar que o rádio é um instrumento poderoso na difusão da língua portuguesa porque ele possibilita ao cidadão comum ampliar seu vocabulário e assim dominar melhor o seu idioma. Aliada a esta função – por assim dizer – pedagógica, a rádio também possibilita ao trabalhador estar a par dos principais acontecimentos da sua cidade, do seu estado, do seu país e mesmo do mundo. Isto é importante na medida em que o mundo globalizado exige que as pessoas estejam bem- informadas e o trabalhador de baixa renda não lê jornais ou revistas, e muitas vezes não tem tempo de assistir aos telejornais.
O rádio constitui-se em meio informativo muito mais ágil que outros meios de comunicação e, ao mesmo tempo, cobre áreas mais próximas ao ouvinte. Por isso o rádio alcança o ouvinte com a notícia no exacto momento em que ela acontece.
Desse modo pode oferecer um noticiário sobre a realidade daquele que o escuta. Daí porque a função precípua do rádio, especialmente do radiojornalismo, é servir à população. Por ser ágil, imediato e por estar mais próxima do ouvinte, o rádio também serve de caixa de ressonância para os anseios da população. É por este motivo que o sucesso de muitos apresentadores de rádio os leva a assumir cargos electivos, como é o caso de diversos parlamentares brasileiros, especialmente aqueles oriundos de cidades do interior.
Por se tratar de um serviço público, para o qual é necessário receber concessão governamental, o rádio também é moeda forte na política. Para conseguir aprovar o projecto que estabelecia em cinco anos o mandato presidencial, o ex-presidente José Sarney distribuiu a torto e a direito concessões de rádios. Entretanto, após instaladas as rádios não podem representar os interesses dos poderosos de cada dia porque a isenção é a sua moeda mais valiosa. Caso venha a cair no descrédito ante a população, perde audiência e com ela os patrocínios publicitários que garantem sua sobrevivência.
É esta a compreensão da radiojornalista Maria Elisa Porchat, da Rádio Jovem Pan, de São Paulo, que afirmou:
"A força e o poder do rádio surpreendem a todo momento. A informação repercute de forma instantânea, directa e imediatamente. Um ouve, fala para o outro e todos acompanham o fato, num alcance espantoso. A consciência disso é fundamental nas actividades do jornalismo. A consciência e a capacidade que tem de atingir todas as faixas do público, de mobilizar e agitar a cidade; de unir e politizar a população."[9]
No que concerne a um congresso da natureza deste, no qual tenho a honra de representar o Brasil e no qual nossos irmãos lusófonos de Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Macau e Timor Loro-Sae (Timor Sol-Nascente), além de representantes da "Diáspora Portuguesa" no Canadá, nos Estados Unidos, em Luxemburgo e na França, é de especial importância sublinhar o papel dos rádios da defesa, promoção e difusão da língua portuguesa.
Em relação ao Brasil, o Código de Ética do Jornalista estabelece, como responsabilidade profissional do jornalista, no capítulo III, artigo 17, que: “O jornalista deve preservar a língua e a cultura nacionais.” Fica, portanto, determinado que a profissão de jornalista é um dos sustentáculos de preservação da nossa língua portuguesa e da cultura a ela relacionada.
Devido ao fato de que o rádio é som, a língua portuguesa precisa ser dominada pelos profissionais da radiofonia. É de todos sabido que os ouvintes não gostam de ouvir teses ou um linguajar empolado, pseudoerudito, pomposo. Mas o português bem falado, criativo, com boa pronúncia, é um idioma agradável aos ouvidos. A sonoridade vibrátil, a doçura e a suavidade dos vocábulos, a musicalidade encontrada nas diferentes pronúncias e sotaques nascidos nas diversas manifestações nacionais e regionais, fazem do português uma língua afável e boa de ser escutada.
Mas não devemos esquecer que, embora encantados com sua doce pronúncia, o português é uma língua culta e difícil de ser falada com toda correcção. Desse modo, o rádio deve evitar o uso de uma linguagem inacessível. Pelo contrário, o radiojornalista tem o dever profissional de procurar falar um português que seja ao mesmo tempo correcto e acessível à maioria das pessoas, procurando pronunciar de forma nítida e “limpa” as palavras que utiliza.
Como afirma Porchat: “Mais do que uma bela voz, o locutor precisa ter um conhecimento técnico, que se adquire com esforço e treinamento. Entretanto, para o locutor de radiojornalismo, nada é mais importante do que transmitir segurança, crença na informação que lê.”[10]
Alguns métodos podem ajudar a locução, tais como utilizar os recursos da gestualidade pois eles auxiliam a expressão oral. O tom deve ser convincente, pois só consegue passar segurança a quem ouve aquele que acredita no que está dizendo.
Segundo Mariajosé de Carvalho, professora de Dicção e Retórica, “o locutor deve sempre imaginar um ouvinte activo, interlocutor. (...) Fale sempre com um ouvinte em particular e não com o conjunto de ouvintes. Ele se sentirá um amigo, o que é fundamental para quem ouve rádio.”[11]
Quanto à voz, o locutor deve controlar a respiração pois as tomadas de fôlego devem ocorrer nos momentos adequados. A inspiração deve ser suave e silenciosa, e a expiração, lenta e regular. A voz deve ser entonada de modo firme e descontraído, buscando ser agradável aos ouvidos sem contudo perder a firmeza.
Porém, pairando sobre toda a técnica encontra-se a linguagem. Todo o processo radiofónico baseia-se na linguagem e o radiojornalista deve saber lidar e valorizar as palavras, utilizando uma linguagem correcta porque:
A comunicação no rádio é limitada, por contar apenas com o som. O que requer uma compensação na linguagem nela empregada, em contrapartida, o rádio leva a vantagem de estar em toda parte. Esse alcance impõe um compromisso cultural, num sentido amplo, e promove a valorização da nossa língua, de modo particular.[12]
Para encontrar o ponto de equilíbrio entre o português clássico e o português falado nas ruas, em diversas regiões de um mesmo país, é necessário ter em mente que o idioma é um ser vivo, em constante mutação. As línguas vivem sofrem diariamente processos de modificação e acomodação de neologismos, estrangeirismos, gírias e incorporação de termos técnicos.
Nesse sentido, o rádio é tanto informativo quanto formativo não só de opiniões quanto de incorporação de novos vocábulos à língua falada nas ruas. “Daí a dificuldade de encontrar a variedade regional e social da língua que melhor desempenhe, harmonicamente, essas funções”, afirma Edith Pimentel Pinto, professora de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo.[13] Esta docente afirma, em depoimento a Maria Elisa Porchat, que:
“Nesses dias de predomínio do oral sobre o escrito, o rádio tem penetração muito maior do que a imprensa. Além disso representa, para o analfabeto, o mais importante veículo de integração social. Por ser o aparelho mais portátil e mais barato que o da TV, pode acompanhar o trabalhador em sua actividade – a dona-de-casa, a costureira, o mecânico, o marceneiro, todos têm, através do rádio, a informação, o prazer da música, o calor da voz humana.”[14]
O rádio deve compensar a falta de imagem através do som, de modo que através da palavra o ouvinte consiga “ver” a imagem evocada através dos vocábulos utilizados pelo locutor. A imaginação desempenha, portanto, importante papel na comunicação entre o rádio e o ouvinte.
Leve-se em consideração que a escuta pode ser realizada enquanto o ouvinte desempenha outras actividades, de modo que o rádio deve oferecer uma riqueza sonora variada para manter a atenção do seu ouvinte. Este é mais um motivo para que a linguagem do rádio seja rica, cativante, fácil, objectiva e, sobretudo, agradável aos ouvidos.
O rádio é um aparelho que pode ser transportado para todos os lugares e acompanhar a pessoas em quase todas as actividades laborais, tanto na cidade quanto no campo. Também funciona independente do abastecimento eléctrico já que os pequenos aparelhos funcionam à pilha. Além do mais é acessível às pessoas de baixa renda, aos analfabetos e aos que são privados de visão. As pessoas costumam escutar o rádio a todos os momentos, desde o momento em que se acorda até a hora de se deitar e dormir.
Por ter uma penetração tão grande, muito maior que os meios de comunicação impressos (jornais e revistas) e mesmo do que a televisão (que impõe certa imobilidade e acuidade visual concentrada), os profissionais de radiodifusão devem ter consciência da importância social e instrutiva que possuem.
Neste sentido, deve primar por utilizar uma linguagem límpida, clara, precisa, nítida e simples. Mas também a linguagem utilizada no rádio deve ser rica e variada, objectivando aumentar o universo vocabular dos ouvintes. Deve ser ainda repetitiva pois rádio é repetição pois os ouvintes conectam e desconectam-se continuamente. O radialista deve empregar ainda uma linguagem forte, concisa, correcta, invocativa e agradável.
Seu português deve ser correcto, mas não pedante, sem abdicar da espontaneidade mas sem cair na vulgaridade nem empobrecimento da linguagem. Trata-se, portanto, de um desafio que só com o tempo o bom profissional de radiodifusão consegue vencer. Neste mesmo sentido, afirma Maria Elisa Porchat:
Nossa linguagem será espontânea, como se fala, e correcta, como se escreve. Para isto, adoptaremos do coloquial a informalidade e a força das expressões, sem as gírias e expressões vulgares, da linguagem escrita tomaremos a exploração dos recursos linguísticos, a busca do termo exacto, o poder de síntese e a obediência gramatical, eliminando o supérfluo e a afectação.[15]
Para contribuir com a defesa e difusão do nosso próprio idioma, deve-se evitar as palavras estrangeiras. As palavras em outros idiomas podem ser usadas quando não houver vocábulo correspondente em português, mesmo assim é recomendável que se traduza seu significado.
E quanto ao poder de síntese próprio do labor radiofónico, é recomendado que se diga o máximo com o mínimo de palavras. Isto é, o redactor de textos que serão lidos pelo locutor deve enxugar a frase, deixando apenas o que for essencial ao entendimento e à estrutura gramatical.
Ainda assim, é recomendado precisão nas palavras utilizadas procurando o termo mais adequado para exprimir a ideia ou a notícia que está sendo veiculado. Mas é importante variar o vocabulário, fugindo dos lugares-comuns, das palavras estereotipadas, dos jargões e dos “chavões”.
Segundo o dicionarista Antônio Houaiss, a variação vocabular no rádio é positiva porque o ouvinte vai incorporar novas palavras (mesmo sem as utilizar no seu quotidiano) ao seu universo vocabular. Assim, “o ouvinte aos poucos vai compreendendo o que significa aquela expressão e vai incorporá-la, quando não ao seu vocabulário activo, ao seu vocabulário passivo. Isto é cumprir uma missão de alta relevância didáctica”, além de cumprir a vocação informativa do rádio, afirma o mestre Houaiss.[16]
Temos, portanto, como missão do locutor radiofónico a valorização da linguagem e o enriquecimento do vocabulário porque “a linguagem correcta, além de ser um dever do comunicador, torna a frase mais nítida e é mais agradável do ponto de vista sonoro.”[17]
Afinal de contas, rádio é som. E o som deve ser o mais agradável e o mais perfeito possível. Por isso o locutor deve dirigir-se aos ouvinte como se estivesse falando com cada um deles pessoalmente, de maneira individual, de maneira natural, informal e usando uma linguagem simples e correcta, para assim poder cumprir sua vocação de, ao informar, formar os cidadãos.
Devemos recordar o depoimento de Mariajosé de Carvalho, sobre a imensa riqueza da língua portuguesa. Disse esta ex-professora da Universidade de São Paulo, a propósito dos críticos do nosso belo idioma:
"É preciso acabar com esse preconceito de que o português é uma língua feia, que não exprime isso ou aquilo. O que acontece é que as pessoas não tem o que dizer e põem a culpa na língua. O português é uma língua riquíssima em sinónimos, pode Ter dez palavras para exprimir uma coisa, mas as pessoas fazem o contrário: usam uma (palavra) para exprimir dez (coisas)."[18]
Senhoras e senhores, gostaríamos de finalizar nossa intervenção neste Congresso Internacional de Radiodifusão em Defesa da Língua Portuguesa afirmando, com o poeta, que a língua portuguesa é minha e a nossa pátria comum.
Cumpre, portanto, defendê-la com amor e devoção e, ao mesmo tempo, expandir seu universo criando e recriando expressões para manter a última e mais bela flor do Lácio como um dos idiomas mais falados do nosso planeta.
É neste sentido que urge mantermos com as nações lusófonas da Europa, da América, da África e da Ásia, as mais estreitas relações de cooperação e de comunhão pois, sendo a língua portuguesa nossa pátria comum, cabe a nós, os lusófonos, defendê-la e expandi-la pois ela representa uma nação idiomática e uma cultura composta por várias nações e por diferentes culturas.
A Portugal devemos agradecer a herança idiomática que nos legou. Devemos recordar, com gratidão, que foi este país – pequeno em território, gigante em espírito – que inventou o mundo moderno quando, com a intrepidez dos seus valorosos navegantes, desafiou os mares, esquadrinhou o mundo e semeou o formoso idioma lusitano em terras de todos os continentes.
Graças a tal espírito gigante, Portugal legou aos povos do Brasil, de Angola, de Cabo Verde, de Guiné Bissau, de Macau, de Goa, de Moçambique, de São Tomé e Príncipe, de Timor Loro-Sae, bem como aos filhos da Diáspora Portuguesa, o mais importante elemento civilizatório: o idioma – e, com ele, a cultura.
Viva para sempre a nobre língua e a brava gente portuguesa!
Viva para sempre todos os povos e todas as nações lusófonas!
Vida longa e livre ao nosso irmão mais novo, o Timor Loro-Sae!
[1] Conferência proferida no Congresso Internacional de Radiodifusão de Língua Portuguesa. Universidade de Alto Douro e Trás-os-Montes (Vila Real, Portugal, de 16 a 18/06/2000).
[2] Umberto ECO, A Procura da Linguagem Perfeita. Lisboa: Presença, 1996, p. 23. Em defesa da criatividade e da verdade, devo confessar que a inserção desta citação de Umberto Eco é uma interpolação feita a posteriori no texto da conferência. Só tive acesso ao livro citado após o Congresso, ao visitar a biblioteca do Prof. Dr. Rui Dias Guimarães. Minha conferência, cujo texto foi lido e distribuído aos congressistas, começa com a mesma metáfora com que Umberto Eco inicia o primeiro capítulo do seu livro La Ricerca della Lingua Perfetta (Roma-Bari: Gius. Laterza & Figli, 1993). As demais citações do citado livro têm mesmo objetivo: expandir e aprofundar o texto da conferência.
[3] Ferdinand Sausurre afirma que o signo lingüístico é composto por um significante e um significado, e que sua relação é arbitrária, convencional.
[4] Op. cit., p. 42.
[5] Sepher Yezirah, II, 2. Rio de Janeiro: Renes, 1978, pp. 25-26.
[6] Jorge Luis BORGES, em célebre poema intitulado "El Golem", redigido em 1958, escreveu:
"Si (como el griego afirma en el Crátilo)
El nombre es arquetipo de la cosa,
En las letras de rosa está la rosa
Y todo el Nilo en la palabra Nilo."
[7] Escreveu Fernando PESSOA (Mensagem e Outros Poemas Afins. Mira-Sintra: Publicações Europa-América, s/d, p. 138):
"Glosam, secretos, altos motes
Dados no idioma do Mistério -
Soldados não, mas sacerdotes
Do Quinto Império"
[8] PLATÓN, Diálogos - II: Gorgias, Menéxeno, Eutidemo, Menón, Crátilo. Madrid: Gredos, 1987, p. 453. Sobre este importante diálogo socrático, a filósofa Eva Vicente TEMIÑO escreveu o inédito e excelente ensaio El Crátilo o La Exactitud de los Nombres (El Lenguaje Como Modo de Conocimiento), texto que estamos traduzindo pois urge publicá-lo.
[9] Maria Elisa PORCHAT, Manuel de Radiojornalismo Jovem Pan. São Paulo: Ática, 1993, p. 35.
[10] Idem, op. cit., p. 87.
[11] In idem, op. cit., p. 89.
[12] Idem, op. cit., p. 93.
[13] In idem, op. cit., p. 95.
[14] In Idem, ibidem.
[15] Id., op. cit., p. 100.
[16] In idem, op. cit., p. 109.
[17] Idem, op. cit., p. 114.
[18] In idem, op. cit., p. 148.