ZONA DE IMPACTO

 ISSN                                                                                                 ab irato

 

Vol. 4, Ano VIII, Julho, 2005

 

            


 

A COMUNICAÇÃO NA INTERNET: “CHAT”

 

 

ROSA MARIA APARECIDA NECHI VERCEZE

DEPARTAMENTO DE LETRAS E LINGÜÍSTICA - UFRO

ERIK SANCHEZ NOGUEIRA

GRADUADO EM LETRAS - UFRO

 

Resumo: Esse Artigo analisa as interações comunicativas mediadas por computadores, desenvolvidas num ambiente virtual denominado “chat”, tem como referenciais teóricos autores como Marcushi (2003), Turkle (1995), Nicollaci da Costa (1998), Farah (1999), Hilgert (2000). Para o desenvolvimento do tema, apresenta um breve histórico sobre a Internet, descreve algumas características do “chat”, por exemplo, o processo de enviar mensagens instantâneas através do MSN Messenger e, principalmente, analisa as características lingüísticas e psicológicas, revelando o contínuo entre fala e escrita ocorrido dentro dos “chats”.

 

Palavras-Chave: 1. Interação. 2. Comunicação “on-line”. 3. Linguagem no “chat”. 4. Continuum entre fala e escrita. 5. Re-oralização.

 

Abstract: This Article analyzes the comunicativas interactions mediated by computers, developed in a virtual environment called "chat", has as referenciais theoreticians authors as Marcushi (2003), Turkle (1995), Nicollaci of the Coast (1998), Farah (1999), Hilgert (2000). For the development of the subject, it presents a briefing historical on the Internet, describes some caracteristics of chat, for example, the process to send instantaneous messages through the MSN Messenger and, mainly, analyzes the linguistic characteristics and psychological, disclosing the continuous it enters inside speaking and writing occurred of "chats".

 

Key-words: 1. Interaction. 2. Communication on-line. 3. Language in chat. 4. Continuum enters says and writing. 5. Re-oralização.

 

Introdução

 

Este artigo tem como base o Projeto de Pesquisa desenvolvido na Fundação Universidade Federal de Rondônia, Campus de Guajará-Mirim, Disciplina de Lingüística, intitulado “A Comunicação na Internet: "chat”. O projeto foi apresentado ao Curso de Letras - língua portuguesa com seu objetivo geral de explorar as peculiaridades lingüísticas e interações desenvolvidas em um ambiente virtual conhecido como “chat” (do inglês: prosa; conversar; bater papo), e seus objetivos específicos de descrever o funcionamento do “chat”, observando suas principais características; comparar a comunicação “on-line” com a comunicação oral “em presença”; descobrir semelhanças e diferenças entre a comunicação “on-line” e a comunicação real (face a face); investigar a importância dessa nova forma de relacionamento digital, sua influência, contribuição e relevância para a lingüística e outras ciências; analisar a morfologia da comunicação “on-line”, especificamente no “chat”. Entretanto, neste artigo, limitar-se-á a analisar as relações, produções e interações comunicativas desenvolvidas num ambiente virtual, ou em determinado espaço da Internet, no qual a informalidade, a amizade, a alegria, a tristeza, os desejos, as ansiedades se expressam de forma especial, por isso trataremos de algumas observações do uso da linguagem virtual o “ircques”: “emoticons” e “acrônimos”. Para tanto, os exemplos coletados para a análise são fragmentos de textos com mensagens comunicativas enviadas pela Internet, retirados dos espaços virtuais dos “chats”: ambiente reservado e ambiente público.

Para a construção do corpus, primeiramente, foi necessário fazer um cadastro (passport) em um lugar virtual que oferece diversos serviços na Internet – o MSN Brasil. Com esse “passport”, tem-se acesso ao navegador do MSN Brasil que entre outros serviços oferece as opções “Contatos On-line” (bate papo reservado, MSN Messenger) e “Sites e bate-papo”. Esse último leva aos lugares (sites) e opções de salas de bate-papo (chats). Em seguida foi necessário instalar um programa e, após acessar a primeira sala de “chat”, com o nome fantasia (nick) Erik4001, observou-se, durante várias horas diárias, a conversação escrita. Em outros momentos, houve o contato do pesquisador com alguns usuários dos “chats”.

 

Referencial teórico

 

O artigo terá para a fundamentação da análise os pressupostos teóricos de autores considerados importantes neste estudo, tais como: Marcushi (2003), Turkle (1995), Nicollaci da Costa (1998), Farah (1999), Hilgert (2000) e, bem como, pesquisas realizadas em alguns sites na Internet. Assim, com esses estudos o que se pretende mostrar é a descrição e reconhecimento de características e semelhanças na comunicação da Internet num entrecruzamento de discursos: a fala e a escrita praticadas na “rede mundial de computadores”, dentro dos “chats”.

 

Um breve histórico sobre a Internet

 

A Internet é um conjunto de redes de computadores que funcionam interligados pelo mundo inteiro, tendo em comum um conjunto de “protocolos” e “serviços”, de tal forma que os usuários, nela conectados, podem usufruir serviços e informações com a comunicação de alcance mundial. Nesses parâmetros, surgiu de um projeto da Agência Norte-Americana ARPA (Advanced Research and Projects Agency), cujo objetivo era conectar os computadores dos seus departamentos de pesquisa, a fim de criar um sistema de defesa contra possíveis ataques em caso de guerra. A partir daí, outros computadores foram sendo interligados à rede original, até dar origem ao que se chama hoje de Internet.

Chegou ao Brasil em 1995, aproximadamente. Desde então, com o aumento do acesso aos microcomputadores nas residências, a rede começou a se espalhar e, hoje, já envolve certamente alguns milhões de “usuários” . Em uma manchete de 01/9/99, a Agência Folha de São Paulo, informava:

Em comparação com outros países latinos, o Brasil se destaca pelo número de internautas: 3,3 milhões ou 2,4% da população, de acordo com a última pesquisa Internet Brasil, do Ibope. Nos outros países latino-americanos, uma média de 1,5% da população acessa a rede. Em relação aos países das Américas, o Brasil está em terceiro lugar no número de “hosts” (sites), depois dos Estados Unidos e Canadá.

É por intermédio da Internet que podem ser obtidas as mais diversas informações, pelo sistema “World Wide Web”. São milhões de “sites”, páginas e “Home Pages” que trazem informações sobre os mais variados assuntos, entre outros usos. E é, também, por meio dessa “teia ampla mundial de conexões” que são realizados os “chats on-line”, os “bate papos na linha” de que trataremos nesse artigo.

 

Características dos “chats”

 

A denominação “Chat” vem do Inglês e significa bate-papo, conversar, fofocar. Um “chat”, em jargão internauta, significa um lugar virtual em que diversas pessoas podem se encontrar em um lugar virtual (on-line) para conversar sobre os mais variados temas.

Dentro dos “chats”, a conversa acontece praticamente em tempo real, ou seja: alguém digita uma mensagem e a envia por meio do computador. Em uma seqüência imediata, outra pessoa recebe a mensagem do “outro lado”, em outro computador, podendo ler e responder a mensagem, dentro da mesma continuidade. Atualmente, os recursos da microinformática nos possibilitam até mesmo conversar, via computador, usando microfones e fones de ouvidos, e também ver e enviar áudio e vídeo (usando uma câmera digital, “web cam”). Contudo, este artigo limitar-se-á a analisar apenas a comunicação escrita do “chat”.

 

Enviando mensagens instantâneas pelo MSN Messenger

 

O programa do MSN Messenger permite que você veja quando seus amigos e familiares estão “on-line” (conectados) e que envie mensagens instantâneas para eles. O serviço o avisa também sobre novos “e-mails” (mensagens do correio eletrônico), assim que eles chegam. Ao instalar o serviço, o seu “Passport” será solicitado (seu endereço no “Hotmail” ou no MSN) e uma senha. Após cadastrado, para enviar mensagens instantâneas, basta clicar no ícone:  “contatos on-line”, localizado na parte inferior direita da tela do computador. E, clicando no mesmo ícone novamente poderão ser adicionados e exibidos seus “contatos on-line”. Então é só clicar no nome desejado para o “bate-papo” reservado.

Assim, entre outras coisas, o MSN é um provedor com programas específicos que permitem aos usuários da internet conversar em tempo real com outros usuários que tenham o mesmo programa, podendo ter uma lista de “amigos virtuais” e acompanhar quando eles entram e saem da rede.

Em alguns casos, isso vai exigir, também, que façamos o processo de transferência (download) do programa (software) do MSN, necessário para conectá-lo ao serviço. Todos os serviços a seguir necessitam de “download” de “software”: Bate-papo, Bate-papo em comunidades, Messenger, Centro de fotos e outros.

 

Utilizando o “MSN chat”

 

O acesso à opção “MSN Chat” é possível através do ícone “Sites & bate-papo”, localizado na tela do navegador do MSN Brasil, na parte superior. Para conectar-se, basta seguir as etapas: (1) clicar no “link Home page” do “Chat”; (2) decidir sobre uma categoria de bate-papo; (3) escolher uma sala de bate-papo ou criar a sua própria sala; (4) entrar e aguardar ser conectado.

Uma vez dentro do “canal”, o usuário pode manter conversas públicas ou privadas com outros usuários. Numa tela principal falam, ou, no jargão internauta, teclam todas as pessoas presentes, enviando “recados públicos”, que, podem ser lidos por todos os participantes desse canal. Paralelo a esse procedimento, você pode clicar no “nick” (nome) das pessoas presentes para ter com elas uma conversa particular (“sussurrar”). Cada usuário pode participar de quantos canais quiser, simultaneamente, bem como falar com tantas pessoas quanto desejar.

Cada canal possui um ou mais “operador”, pessoas que definem e exigem que as regras do canal sejam respeitadas. Essas regras se referem a vários tipos de comportamento: a etiqueta, o linguajar, brigas entre usuários, impedimento de propagandas e etc. As pessoas que cumprem essa função reguladora são identificadas geralmente pela presença de um ícone especial ou o símbolo arroba (@) na frente do seu “nick”. São os “ops”. No caso de desobediências às regras, os “operadores” têm meios de excluir pessoas que infringirem as regras estabelecidas no canal.

 

A importância do estudo dos “chats”

 

O “chat” vem fazendo parte da vida de um número cada vez maior de pessoas. A maioria dos freqüentadores dos “chats” é formada por adolescentes e jovens, mas, também, encontramos entre eles pessoas de diversas idades. Os usuários habituais costumam freqüentar sempre as mesmas salas de “chat”, o que faz com que essas salas se tornem verdadeiras “comunidades”, regidas por regras e normas próprias a cada uma delas.

 As pessoas ficam amigas, inimigas, pode haver brigas, discussões, e do lado positivo, até uma conquista – namoro. Muitas vezes, os encontros virtuais são transpostos para a vida real (mas o que é real no mundo do “chat”?), então, são marcados os “IRContros”, ou seja, as pessoas de uma sala de “chat” ou canal encontram-se pessoalmente.

Essa questão por si só já justificaria a importância de se estudar os “chats”, principalmente, porque muitas vezes relacionamentos virtuais tornam-se amizades verdadeiras, o que nos faz pensar sobre a “realidade” dessas amizades virtuais.

 

Psicologia e o mundo do “chat”: mundo real ou virtual?

 

Sherry Turkle, autora do livro “Life on the Screen: Identity in the Age of the Internet” in apud Simon & Schuster, (1995), afirma que, para muitas pessoas, o mundo do “chat” é uma realidade alternativa. Em sua pesquisa, enfatiza que, para alguns participantes, a vida no “chat” chegava a ser mais importante do que a vida real.

Se o “chat” vem se tornando um meio tão importante de comunicação entre seres humanos, cabe aos psicólogos e pesquisadores lançarem seus olhares sobre essa nova via de troca. Mas, então, como a utilização dessa nova tecnologia está afetando os relacionamentos das pessoas?

A autora diz, também, que há muitos tipos de pessoas que freqüentam os “chats”, desde aquelas pessoas “normais”, que o fazem por pura diversão, até pessoas muito tímidas, que procuram na vida “on line” um substituto para o que falta em suas vidas “off-line”. Um outro grupo, ao qual ela dedicou mais estudos, é o de pessoas que usam o chat para concretizar suas fantasias.

Já para Nicollaci da Costa (1998) as salas de bate-papo podem ocasionar grandes amizades, simplesmente pelo uso da interação virtual discursiva, não é necessária, a priori, a aparência física. O bate-papo “on-line”, repetidas vezes, pode estabelecer laços afetivos que acabam por desencadear, de certa forma, gratificação às pessoas, uma vez que podem ganhar amigos, companheiros, etc. Devido à capacidade discursiva do usuário, nas palavras desse autor:\

 

“As amizades não são mais necessariamente locais. As pessoas não mais são abordadas por serem bonitas, se vestirem bem ou exibirem sinais de riqueza. As aparências e o dinheiro tornaram-se pouco importantes, pelo menos para um contato inicial. Os primeiros estágios da comunicação tornaram-se anônimos e “afísicos”. As pessoas se aproximam umas das outras por conta do que seus “nicknames” sugerem, ou por conta do que conseguem expressar de si mesmas por escrito (mesmo quando criam um personagem imaginário). Desse modo, usando os milhares de “salas de bate-papo”, teclado disponíveis no “ciberespaço”, elas fazem amigos íntimos muitas vezes a despeito de longas distâncias. Algumas pessoas que se conheceram no ciberespaço tornam-se reciprocamente tão companheiras e íntimas que alguns relacionamentos “ciberespaciais” já terminaram em casamento”.

 

Desse modo, o “chat” acaba ocupando que lugar na vida das pessoas? Vejamos um exemplo prático no qual a Profª. Rosa Farah (1999), Psicóloga do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em informática – NPPI, nos descreve assim:

 

“No “chat”, a palavra escrita é de maior importância. Saber escrever bem é o que cativa o outro, ser sedutor com as palavras é o que importa. E aqui, escrever bem não significa ter um bom domínio do idioma, no sentido acadêmico. Muito pelo contrário, como veremos mais à frente, a linguagem usada no “chat” é bastante “incorreta”, se aferida em relação ao padrão culto da língua escrita”.

 

Esses argumentos comprovam a importância da Lingüística e de outras ciências mergulharem nessa “infomaré” (Expressão empregada na letra da canção “Pela Internet” de Gilberto Gil) oferecida pela Internet. Será, então, que escrever é, para algumas pessoas, mais fácil do que falar? “teclar” via computador seria mais fácil do que se comunicar frente a frente? Mas o que acontece de tão importante dentro destas salas de “chat” que merece atenção? A observação desse novo universo, sem dúvida, suscita muitas questões!

 

Funcionamento das “comunidades”: regras, papos, conversas

 

Um canal, geralmente, depois de algum tempo, acaba se transformando em uma verdadeira comunidade. As pessoas acabam acessando constantemente a mesma sala, no mesmo horário, com o mesmo “nick”, para encontrar as pessoas já conhecidas.

Conforme já dito, os “operadores” mantêm o canal em ordem, fazendo com que os usuários respeitem as regras. Que regras são essas? Basicamente, não falar palavrões, não fazer “flood” (insistentes repetições de mensagens em intervalos curtos de tempo), não gritar, não fazer propaganda de qualquer espécie, entre outras coisas.

Se alguém quebrar uma dessas regras, a pessoa é “kickada” do canal, ou então pode ser banida, ou seja, impedida de voltar ao canal por alguns minutos.

As mensagens que circulam na tela principal são de conteúdos variados, muitos deles, os que se consideram “anúncios”. Um “anúncio” é quando uma pessoa diz, na tela principal (mensagens públicas) que deseja conversar com este ou aquele grupo de pessoas. Essa pessoa repete essas mensagens, até que as pessoas que se encaixam no “anúncio” falem com ela em particular.

As pessoas também perguntam sobre outros amigos, se estão “on line” ou não, contam piadas, torcem por times de futebol, dão noticias recentes, cantam, recitam poesias, perguntam e recebem informações sobre os mais diversos assuntos (em especial sobre computadores), ajudam os novatos, etc. Quanto às mensagens particulares, não há como especular sobre a quantidade e variedade de temas. Uma boa parte dessas pessoas deseja fazer amigos, ou encontrar namorados(as). Varias delas, principalmente homens, procuram mulheres para fazer “cybersexo”.

Alguns desejam apenas conversar para passar o tempo, enquanto outros fazem das conversas no “chat” verdadeiras sessões de desabafo sobre problemas emocionais. Além disso, há os que se divertem, exclusivamente, provocando brigas e bagunças no “canal”.

Assim, a Internet propicia diversos atrativos, por exemplo, possibilita que as fronteiras de tempo e espaço sejam quebradas, pois se pode conversar com uma pessoa que esteja na Austrália ao mesmo tempo que conversamos, via computador, com alguém de sua própria cidade, estado, país...

E, nessa torre de Babel, que língua se fala?

 

Análise do uso da linguagem nos “chats”: “o ircques” – “emoticons” e “acrônimos”

 

A concepção de uso da linguagem, volta-se para as relações comunicativas informais, como as interações desenvolvidas no “bate-papo” via teclado – “chat” que vem elucidar as pesquisas recentes que tem procurado mostrar os limites entre a língua falada e a escrita, bem como as questões que envolvem a sociolingüística.

“A elaboração da mensagem na conversação via internet acontece por escrito, por força das características do meio eletrônico usado, mas os interlocutores sentem-se numa interação falada”, afirma Hilgert (2000). A percepção da fala vem especialmente explicitada nas características da própria formulação dos enunciados, assim, também se expressa em referências metalingüísticas (via escrita).

Vejam o exemplo, no fragmento de fala abaixo, que a expressão “bate-papo” faz parte da língua falada, se fosse usada na escrita, por exemplo, utilizar-se-ia outras expressões “ter uma conversa”, “ter um diálogo”, etc. Observe que essa expressão, também, coincide com o próprio nome simbólico que os “chats” possuem. Lugar exclusivo para conversar. Outra marca de oralidade, está expressa na presença do verbo “estar” empregado abreviadamente como “ta”. Considerando, ainda, o cumprimento do internauta “olá sala” que marca, mais uma vez, a fala propriamente dita.

 

- Delicada 08:00 - Alguém tá afim de um bate papo legal?

- delicada_vasg 08:25 : - olá sala!!!

 

Há, também, recursos que buscam traduzir manifestações exclusivas da fala, tais como cumprimentos informais, alongamentos vocálicos com funções paralingüísticas que atestam que os interlocutores se consideram falando, como forma de marcar mais incisivamente sua interação discursiva, ou forma de chamar atenção de seu interlocutor. Isso se observa pela repetição de vogais e consoantes que representam os sons da fala. Vejam exemplos:

 

-juju9374 08:04 : xauuuuuuuuu...

- felixposeidon 08: 06 : kd vc gataaaaaaa1111111111111

- Stegea361 : falaaaaaaaa

- FeLiPe_QuIkSiLvEr_1985 : brigaduuuu

 

Por outro lado, a consciência de que a conversação ocorre por escrito vem amiúde, atestada por meio da referência metonímica da expressão “teclar”. Essa palavra faz parte do vocabulário técnico da área de informática, mas agora, ganha uma nova conotação, os internautas a consideram como “conversar”. E, ainda, para ser mais rápido (economia de linguagem) cria-se uma abreviação “tc”, observe no fragmento abaixo:

 

-   Serginho_bst : to aqui, alguém quer teclar comigo???

- ►♥Serenissimo♥◄ : vc tc d onde???

 

Cada “canal” (salas do “chat”) utiliza ao menos dois idiomas: a língua do país em que foi criado e o que se chama de “IRCques”. O “IRCques” é composto de “acrônimos” e “emoticons”, além de vários jargões sobre palavras que se referem a informática.

Os “acrônimos” são abreviações de palavras muito usadas. Na Internet o tempo é precioso, e jamais se perde tempo escrevendo corretamente. Nos canais, grande parte das informações é abreviada ou simplificada, o que torna a língua materna (no caso, o português), um terror para os professores que privilegiam a variedade culta da escrita.

No exemplo que segue há o uso de “acrônimos” envolvendo duas línguas: português/inglês. As abreviações “to”, “vc”, “q” caracterizam “fala” do nosso idioma ao passo que “bst”, significa “o melhor”, já faz parte do inglês. Com isso, pode-se intuir que os internautas necessitam de certos conhecimentos dos idiomas presentes, para que a interação virtual aconteça.

 

- sucubusprocura : to cansada de vc

- Serginho_bst : q isso

- Serginho_bst : nunca machuque um coração, pois vc pode estar dentro dele.

 

Como um dos idiomas mais falados na Internet é o Inglês, muitos “acrônimos” vêm da língua inglesa. Por ex., é comum o uso da expressão “LOL” = “Lots of laugh” , ou “Laughs out Loud” - que significa “um monte de risadas” ou “rir muito alto”. A seguir temos um quadro com uma lista de acrônimos, comumente, utilizados em “chats” na internet. Como se pode observar, na primeira coluna há os acrônimos propriamente ditos utilizados pelos internautas no momento da conversa. Essas siglas constituem abreviações que facilitam a comunicação, tornando-a mais dinâmica. No caso das siglas do quadro, nota-se que a maior parte delas são representadas pela primeira letra de cada palavra, numa expressão, por exemplo “Be Rigth Back” (volto logo) – “BRB”. Por outro lado, verificou-se durante a pesquisa o uso, também, de siglas com junções de letras e números e outras vezes a representação fonética das palavras de forma abreviada. Há um exemplo no quadro que caracteriza a mistura de letras e números – thank you (obrigado) – “10Q”.

 

ACRÔMINOS

LÍNGUA INGLESA

LÍNGUA PORTUGUESA

10Q
ADDY
BRB
BTW
FYI
HTH
IMHO
IRL
J/K
LOL
LTNS
NOYB
OIC
OTOH
ROTFL
TIA
TTFN
TTYL

Thank You
Address
Be Right Back
By The Way
For Your Information
Hope This Helps
In My Humble Opinion
In Real Life
Just Kidding
Laughing Out Loud
Long Time No See
None Of Your Business
Oh I See
On The Other Hand
 Rolling On The Floor Laughing
Thanks In Advance
Ta-Ta For Now
Talk To You Later

(Obrigado)
(Endereço)
(Volto Logo)
(A Propósito)
(Para Sua Informação)
(Espero Que Isto Ajude)
(Em Minha Humilde Opinião)
(Na Vida Real)
(Estou Só Brincando)
(Gargalhando)
(Há Tempos Não o Vejo)
(Não É Da Sua Conta)
(Oh, Eu Entendo)
(Por Outro Lado)
(Rolando No Chão De Tanto Rir)
(Agradeço Antecipadamente)
(Até Logo)
(Falo Com Você(s) Mais Tarde)

 

Outra característica da escrita no “chat” é que a palavra escrita nem sempre passa a emoção ou o tom desejado da conversa. Então, para dar “vida” ao texto escrito, são empregados os “emoticons”, ou seja, sinais de várias formas, como os de acentuação ou símbolos gráficos que, se vistos de lado, formam “carinhas”, como por exemplo:

 

: ) uma cara feliz : ( uma cara triste :-D um sorriso :~-( Chorando

 

E, a cada dia, com certeza, são criados mais e mais “emoticons”. Alguns recentes são:

 

 

Os “emoticons” expressam as mais variadas situações, ações, emoções e sentimentos, que o usuário emprega para expressar-se, conforme o momento e o envolvimento durante a interação discursiva. Isso facilita a comunicação porque uma mesma frase, dita sem o “emoticon”, pode gerar confusão e ambigüidade. Por exemplo:

 

1. >Que coisa mais feia que vc fez!

 

É diferente de

 

2. > Que coisa mais feia que vc fez : )

 

Como se pode ver, a primeira fala virtual sinaliza, de certa forma, ao interlocutor, um sentimento de repreensão, já na segunda, uma vez que vem sinalizada no final por um “emoticon” tem-se um outro sentido, uma vez que sinaliza um tom de brincadeira.

Há uma outra maneira de exprimir emoção no mIRC: com um comando específico, a letra fica cor de rosa, e indica uma ação.

 

- Farfalla beija Growly

 

São usadas também muitas onomatopéias para exprimir sons. Uma risada pode ser >ehehehehehe>, num tom sarcástico, mas se ela for alta e “escrachada” será: >HAHAHAHAHAHAHAHA, KKKKKKKKKKKK, kakakakakakakaka...

Normalmente, quando se usam letras maiúsculas, significa que a pessoa está gritando, e por isso, há o impedimento do uso constante do “caps lock” (tecla que aciona a letra maiúscula) na tela principal. Do contrário, a tela toda vira uma “gritaria”.

Fazem parte do “IRCques”, também, as palavras referentes aos acontecimentos do próprio programa: quando o usuário foi “kickado”, banido, está “away” (o computador está ligado, mas a pessoa não está mexendo nele), “has quit” (se desconectou do programa), “netsplit” (quando um dos servidores “cai” derrubando um numero grande de usuários), entre outros termos. Não pretendemos aqui fazer uma lista exaustiva de todos esses termos, mas apenas dar uma idéia ao leitor.

Além disso, ainda podem ser trocados entre os usuários, arquivos, programas, fotos, vídeos e pequenos desenhos, feitos com sinais gráficos e acentos, como uma rosa, por exemplo: @>-----}------ , etc.

Antes de encerrar essa análise, convém tecer algumas considerações sobre o percurso da fala e da escrita estudados por Marcushi (2003). Para o autor as comunicações escritas hoje, em tempo real, pela internet, porduzidas nos “chats” possuem características típicas da oralidade e da escrita, constituindo-se num gênero discursivo misto que se situa num entrecruzamento de fala e escrita. Antes, algumas propriedades que eram exclusividades à fala, são hoje possíveis na prática da escrita à distância, graças a tecnologia. O escrever (teclar) pela internet mostra a consciência da novidade. No entender do autor, a mudança mais notável não diz respeito ás formas textuais em si, mas à nossa relação com a escrita. Nesse sentido, “teclar” pelo computador, no contexto discursivo em situações “on-line” constitui uma forma de nos relacionarmos com a escrita, mas não propriamente uma nova forma de escrita. Como se pode ver, fala e escrita não constituem dois pólos opostos, ou seja, não há entre elas uma relação dicotômica, mas sim um continuum tipológico das práticas sociais de produção textual. Veja o que diz Marcushi (2003).

 

“O contínuo dos gêneros textuais distingue e correlaciona os textos de uma modalidade (fala e escrita) quanto às estratégias de formulação que determinam o continuo das características que produzem as variações das estruturas textuais-discursivas, seleções lexicais, estilos, grau de formalidade etc., que se dão num continuo de variações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao longo de contínuos sobrepostos”.

 

Deste modo, procurou-se mostrar que a construção do texto da conversação na internet é marca efetivamente interativa. Os interlocutores querem interagir. E como a interação, na sua forma mais completa e eficaz, acontece em situação “face a face”, eles, vendo-se compelidos a escrever, investem toda a criatividade para atribuir a esta manifestação “escrita” as marcas da conversação. Isso nos leva a dizer com Meise-Kuhn (1998: 234) apud Hilgert (2000) que a conversação revela um crescente processo de re-oralização, que procura livrar-se das coerções da codificação da língua escrita, recodificando-a em favor de uma interatividade possível por meio da “manifestação escrita”.

Assim, de acordo com a análise, fica evidenciado que os interlocutores não estão preocupados com o ato de escrever, nem com a escrita, o que importa é a comunicação – a interação verbal, por isso, os usos de recursos vários que lhe são disponíveis para facilitar esta comunicação. Nesse sentido, fala e escrita não são levados em conta como propriedades estanques, e nem há preocupação com escrever ou falar “corretamente”. Há, sim, a preocupação primordial de troca de interação, da necessidade de estar em contato com o outro. O importante é seduzir com as palavras e isso não significa saber escrever em um padrão culto, porém atingir o outro com palavras. Por isso, como se vê a escrita culta propriamente não é tão importante para os internautas, haja vista a criação de símbolos, abreviações, desenhos que lhes facilitam a comunicação e, ao mesmo tempo, que conseguem atingir seus objetivos – interagir-se com o outro.

 

Conclusão

 

Após este singelo estudo, podemos depreender, entre outros aspectos, que de um simples sistema de defesa norte-americano desencadeou-se o processo tido como marco decisivo para o surgimento da rede mundial de computadores. Com o surgimento da conexão de alcance mundial um universo gigantesco construiu-se ao seu redor, do qual a comunicação escrita, também, faz parte, incluindo-se os “chats”.

Este lugar virtual, o “chat”, a princípio parece um lugar desordeiro, porém, como vimos, dentro de cada ambiente – sala virtual – regulamentos vão sendo criados e, até mesmo os próprios usuários sentem a necessidade de tal organização ou liberdade de criação, surgindo assim, pequenas leis do “chat”, no qual o lema é interagir com agilidade, conversar, fofocar, divertir-se, namorar e etc.

Na pesquisa, notamos que o processo comunicativo no “chat” ocorre sempre intermediado por um meio físico – o computador – logo, buscam-se algumas alternativas para facilitar a comunicação virtual e torná-la o mais próximo possível da comunicação face a face. Por isso, na Internet, especificamente no bate-papo, o tempo é precioso e não se perde tempo “escrevendo-se corretamente”. Salientando, ainda, que as mensagens são digitadas, fato que exige do participante certa habilidade e tempo para ser formulado o enunciado.

Outra característica revelada com o estudo dos “chats” é a limitação da escrita padrão. Considerando-se as necessidades interativas da conversação, a norma culta não é suficiente para suprir todas as necessidades lingüísticas dos falantes. Por esse motivo, quando se tem interesse em exprimir emoção, sentimentos, ações e outras características lingüísticas da fala, surge uma nova forma de representação na qual as onomatopéias, desenhos, símbolos e outras formas completam algo que falte na escrita culta.

Em muitos casos observados durante a constituição do corpus, dentro do “chat”, a comunicação é tão dinâmica que lembra muito a conversação, chegando a ponto da vivência do indivíduo no ciberespaço ser tão dramática, emotiva e complexa quanto à interação face a face.

Assim, no “chat” a troca de mensagens ocorre rapidamente entre emissores e receptores, o que se chama de “tempo real”, ou melhor, sincronia. Diferenciando-se do e-mail no qual o costume é a comunicação realizada de forma assincrônica. Logo, a comunicação via Internet pode variar entre os modos sincrônicos e assincrônicos. Cada caso possui certas especificidades e propiciam um tipo de envolvimento social.

Em síntese, conforme a pesquisa tentou mostrar, o que efetivamente marca a conversação na internet é a interatividade. A necessidade de interação é o que conta. Nesse caso, como a conversa não é face a face, então, há a necessidade do uso de toda criatividade e invenções constantes para atribuir a essa manifestação discursiva “escrita” marcas que a caracterizam como fala, pois na verdade o que os internautas querem é falar e não escrever. Assim, necessitam cada vez mais se livrar das convenções, coerções de codificação da escrita, procurando cativar o outro com uma escrita acessível em função do meio utilizado e com outras linguagens que entram em jogo para dar vida à comunicação.

Desse modo, é sob a luz da re-oralização que se explicam, por exemplo, os recursos a longas seqüências de sinais de pontos de exclamações e de interrogações e também os sinais icônicos, como os “emoticons” -  - e “acrônimos” – blz. Por isso, é de se esperar que a criatividade dos interlocutores e o próprio desenvolvimento tecnológico no âmbito das interações por computadores desenvolvam ainda muito mais a “oralização da escrita” em busca de interatividade cada vez mais intensa.

Concluímos, assim, que a característica marcante que aproxima “conversação via internet” e “conversação face a face” é a natureza processual e dinâmica dessa primeira, decorrente da interatividade entre os interlocutores em tempo real, esse caráter vai se manifestar nas diferentes estratégias de formulação de seus enunciados, as quais, em grande parte, identificam-se com “conversação face a face”.

Por fim, como a pesquisa que originou esse artigo limitou-se apenas a uma descrição simplificada e parcial de uma das diversas modalidades comunicativas da internet, o “chat”, em particular, as conversações, propriamente ditas, ainda, resta um extenso campo, aberto para pesquisadores e estudiosos interessados no assunto. Por isso, como vimos, estamos diante de uma nova ordem comunicativa, que surge com os adventos tecnológicos da microinformática, os quais nos proporcionam novos “interlocutores-navegadores”, crescendo ainda mais a “cadeia lingüística” num mar imenso, coberto por muitas águas - variações, que se adaptam conforme a necessidade comunicativa e criativa de cada interlocutor, o qual sente-se “surfando” em tempo real. Vamos navegar  ?

 

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Sites pesquisados

 

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