A LEITURA DE "OS SERTÕES", HOJE

 

 

ALFREDO BOSI

 

        EUCLIDES DA CUNHA: VIDA E OBRA

EUCLIDES RODRIGUES PIMENTA DA CUNHA nasceu aos 20 de janeiro de 1866, em Cantagalo, na então Província do Rio de Janeiro. A sua família, de extração lusco-baiana, aí se instalara, nos meados do século XIX, atraída pela miragem de riqueza fácil que o café parecia oferecer a todo o Vale do Paraíba.

Na verdade, os seus não conheceriam a abastança dos barões do café; antes, partilharam o quinhão de uma vida mediana e laboriosa de pequenos fazendeiros; e laboriosa e mediana seria também a vida toda de Euclides: militar, engenheiro, topógrafo, jornalista, escritor e, por fim, em brevíssimo espaço de tempo, professor.

Fez os estudos secundários em vários colégios entre os quais o "Carneiro Ribeiro", de Salvador. Na adolescência escreveu alguns poemas, ainda românticos, de um romantismo liberal afim ao espírito e à linguagem de Victor Hugo, cujo ideário se cifrava no culto do Progresso e da Liberdade. E Euclides fez-se muito cedo abolicionista e republicano ardente. O pendor para os estudos matemáticos levou-o a eleger como curso superior a Engenharia, entrando primeiro na Escola Politécnica, que mal freqüentou, e, logo depois, na Escola Militar da Praia Vermelha. Neste centro difusor da mentalidade positivista educa-se o jovem Euclides para um tipo de pensamento que atava no mesmo feixe de valores a Ciência e o republicanismo. Seu mestre de maior prestígio, Benjamin Constant, discípulo da filosofia de Auguste Comte, viria a ser um dos co-autores intelectuais do movimento militar que depôs o Imperador em 1889. O cadete Euclides incorporou com vigor os traços fatalistas da ciência européia do tempo e, apesar dos matizes que o contacto com a realidade iria ensinar-lhe mais tarde, foram esses os vincos mentais que o marcariam de forma duradoura.

Ao lado da influência de Comte, o evolucionismo de Darwin e de Spencer o dispôs a aceitar, com excessiva confiança, as "leis" sobre os caracteres morais das raças que tanto acabariam pesando na elaboração de Os Sertões.

De Euclides republicano virulento guarda-se o episódio em que desfeiteou, perante a tropa formada dos colegas, o Ministro da Guerra do Império, lançando ao chão o próprio sabre. O Ministro, um civil, não granjeara o apoio dos cadetes, já em crescente animosidade contra D. Pedro II. Expulso da Escola, excluído do Exército em novembro de 1888, partiu para São Paulo onde o acolheu com entusiasmo o grupo republicano já, a essa altura, apoiado por boa parte dos senhores do café, promotores da imigração. Euclides passou a escrever no jornal A Província de São Paulo (depois de 89, O Estado de São Paulo) artigos de cunho ideológico: um pouco de Comte, um pouco de Spencer, muito de republicanismo militar. Um desses artigos terminava assim:

"Porque sabemos que a República se fará hoje ou amanhã fatalmente, como um corolário de nosso desenvolvimento; hoje calmamente, cientificamente, pela lógica, pela convicção; amanhã...

Amanhã será preciso quebrar a espada do Sr. Conde d'Eu."

Proclamada a República, Euclides pôde reintegrar-se nas fileiras do Exército, cursando então Artilharia e Engenharia, na Escola Superior de Guerra. Casa-se em agosto de 1890.

Nos anos seguintes dedicou-se aos estudos brasileiros de que foi, até à morte, um cultor assíduo. Na vida política, aproximou-se do grupo que preparou o contragolpe de Floriano Peixoto, aos 23 de novembro de l891,e que visava a restabelecer as garantias parlamentares após a dissolução do Congresso decretada pelo Marechal Deodoro aos 3 de novembro do mesmo ano.

Em 1892, escreve alguns artigos para O Estado de São Paulo, defendendo as medidas políticas de Floriano. Este manda-o chamar e dá-lhe a liberdade de escolher o cargo que bem entendesse. Euclides, "na época do pleno despencar dos governadores estaduais", como ele próprio refere em carta a um amigo, pede apenas "o que previa a lei para os engenheiros recém-formados: um ano de prática na Estrada de Ferro Central do Brasil." Aí, de fato, estagiou alguns meses, transferindo-se depois para a Diretoria de Obras Militares, onde fiscalizou os trabalhos de defesa contra as ameaças da Esquadra fundeada na baía de Guanabara (1893).

Em março de 1894, dão-lhe a incumbência de dirigir a construção de um quartel na cidade mineira de Campanha. Segundo alguns biógrafos, esse "exílio" teria sido planejado pelo Governo Floriano como forma de apartar do Rio o inquieto tenente que começara a agredir, pelo jornal, um senador governista, adepto da execução sumária dos réus políticos...

A essa altura, Euclides entrega-se com fervor aos estudos brasileiros, passando da Geologia à Botânica, da Toponímia à Etnologia: o acervo de conhecimentos que então carreou formaria a base científica de Os Sertões, obra redigida alguns anos mais tarde.

Desvinculando-se da carreira militar, passa a viver como engenheiro civil junto à Superintendência de Obras Públicas em São Paulo (1896).

Um fato veio alterar a rotina dessa vida de estudioso e funcionário exemplar. Os jornais de 7 de março de 1897 noticiaram o desbarato de uma tropa formada por 1300 soldados em luta com jagunços entrincheirados em Canudos, vilarejo do sertão norte da Bahia. Junto à nova da derrota vinha a da morte do Coronel Moreira César, líder da ala florianista do Exército.

O episódio foi logo interpretado como primeira fase de uma luta armada em prol da restauração do regime monárquico. Embora esse modo de entender fosse objetivamente um absurdo, políticos voltados somente para problemas partidários e ignorantes da realidade sertaneja, fantasiaram conjuras anti-republicanas. As vítimas mais próximas foram diários saudosistas dentre os quais o Comércio de São Paulo, mantido por dois intelectuais refinados, absolutamente distantes de qualquer ligação com os jagunços, Eduardo Prado e Afonso Arinos...

Euclides, republicano da primeira hora, aceitou, no principio, a interpretação dos jornais. Em dois artigos publicados em O Estado de São Paulo, sob o titulo geral de "A Nossa Vendéia" (14.3 e 14.7.97), também aproxima as escaramuças de Canudos e uma crise política que estaria envolvendo o regime e o Exército.

O Estado de São Paulo convida-o a acompanhar, como correspondente, os sucessos de Canudos. Euclides partirá para a Bahia em 4 de agosto de 1897 e enviará as suas notas de repórter até o inicio de outubro do mesmo ano. O que colheu nesses dois meses de observação viria a publicar-se postumamente sob o titulo de Canudos. Diário de uma Expedição, que constitui a matriz de Os Sertões.

O contacto direto com as condições físicas e morais do sertanejo acabou por desmentir o pressuposto de que Canudos era um foco monarquista. Desfeito o equivoco, o escritor pôs-se a examinar com olhos novos aquela sociedade, a um tempo rude e complexa, cuja interpretação ele proporia em Os Sertões em termos de mestiçagem e de influência do meio. Igualmente, junto ao arraial do Canudos conheceria o assombro ante a resistência heróica dos sertanejos a tropas tão mais numerosas e mais bem equipadas.

Euclides ficou em Canudos até o fim da campanha, assistiu ao massacre dos jagunços e percebeu, com todos os sentidos, o absurdo daquela luta desigual e injusta cujo desenlace seria comemorado no Rio e em São Paulo como uma' vitória da República.

Voltando a São Paulo, não tardou em pôr mãos à redação da sua obra máxima. Em 19 de janeiro de 1898 divulga, pelo Estado, os "Excertos de um Livro Inédito", amostra do estilo que sela o livro todo. Este só veio a ser composto na integra em São José 'do Rio Pardo, cidade onde o escritor dirigiu, entre 1898 e 1901, as obras de reconstrução da ponte sobre o Rio Pardo.

Foram anos de estudo intenso e variado. Ao lado das ciências naturais, da Geografia e História brasileiras, Euclides lê clássicos portugueses cuja. sintaxe e cujo vocabulário deixariam não poucos sinais em Os Sertões.

Mas foram também anos de interesse pelas ideologias renovadoras que já encontravam eco em um Brasil em fase inicial de industrialização. Sabe-se que Euclides se achegou ao grupo socialista de são José do Rio Pardo, constituído pela ação inteligente de amigos seus, Francisco Escobar e José Honório de Sylos, e pelo fervor de alguns imigrantes italianos. Destes é de justiça lembrar o nome de Pascoal Artese, fundador do jornal O Proletário cujo primeiro número saiu em dezembro de 1901.

Ao que parece, o escritor teria sido antes um observador simpático do que um militante convicto. Os testemunhos são contraditórios (1): há quem o diga omisso e ausente; mas há quem o aponte como fundador do clube socialista local. O que importa, porém, é a assimilação de critérios progressistas na gênese da obra de Euclides, principalmente nos seus últimos escritos, dentre os quais é texto exemplar "Um velho problema", de 1904, página candente de repúdio à exploração da classe operária.

Em Os Sertões, a interpretação ainda sofre do peso excessivo dado aos fatores do meio físico e da mestiçagem; e é a partir deles que aí se faz a crítica da política federal e do seu republicanismo vazio.

Em maio de 1901, Euclides despede-se de são José do Rio Pardo. O livro, quase pronto, seria ainda polido na linguagem vindo a publicar-se só em 1902. Mas a consagração foi imediata e valeu ao autor artigos elogiosos dos maiores críticos da época (José Verissimo, Araripe Jr.) e a eleição para o Instituto Histórico e Geográfico e para a Academia Brasileira de Letras, com votos de Machado de Assis e do Barão do Rio Branco.

O escritor continuou a trabalhar como engenheiro e a escrever sobre nossos problemas, compondo, em 1904, vários artigos, reunidos mais tarde em Contrastes e Confrontos. Em 1905, o Barão do Rio Branco designa-o para a chefia da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus. Passa na Amazônia todo esse ano: fruto da viagem é o Relatório sobre o Alto Purus, publicado em 1906. No ano seguinte redige, a propósito de uma questão de fronteiras, Peru versus Bolívia.

Em 1909, como desejasse ingressar no magistério oficial, fez concurso para a Cadeira de Lógica do Colégio Pedro II, concorrendo com o filósofo Farias Brito. Este, apesar de ter feito provas superiores, é preterido. Euclides assume as aulas, mas por pouco tempo. Em um desforço pessoal no qual se empenhara por motivos de honra, é assassinado. Contava, ao morrer, quarenta e três anos de idade.

 

        "OS SERTÕES": ANALISE E INTERPRETAÇÃO DAS IDÉIA

Os Sertões nasceram como história da campanha de Canudos - é o que nos diz Euclides na "Nota Preliminar" do livro.

Mas, finda a luta, o escritor, que a anotara com minúcias de repórter, resolveu dar à longa narração o caráter de exemplo de tendências conflituosas da nossa realidade.

Há, portanto, na obra, dois grandes planos: o histórico e o interpretativo.

Ao plano histórico responde a parte final do livro: "A Luta". Ao plano interpretativo, as duas primeiras secções: "A Terra" e "O Homem".

A ordem não é gratuita: vincula-se à cultura do autor e de seu tempo, determinista. Os fundamentos de toda a realidade repousam na matéria; por sua vez, a vida, manifestação orgânica da matéria, supõe a matéria inorgânica. De onde, a necessidade de começar pelo estudo da infra-estrutura geológica, passando depois aos acidentes do solo, às variações do clima para estender-se às formas do ser vivo: a flora, a fauna e, último elo da cadeia, o homem.

Obedecendo à seqüência, Euclides procurou traçar, nas duas secções iniciais de Os Sertões, o quadro evolutivo do Brasil sertanejo que, começando pelo reconhecimento da estrutura do solo e do clima, alcançasse a psicologia de Antônio Conselheiro e dos seus seguidores.

O processo de raciocínio é, aqui, homológico: supõe semelhança de categorias nos vários níveis da realidade. Assim, por exemplo, como há espécies diferentes de plantas e de animais, também deve haver espécies diferentes de homens: as raças (2).

Entende-se a tônica posta no fator racial em Os Sertões quando se remete o modo de pensar que enforma o livro à mente positivista que permeou a cultura de Euclides, engenheiro e militar na segunda metade do século XIX em um país culturalmente preso à França.

As raças, porém, não se configuram como realidades estáticas. As "espécies" vivem em um determinado meio físico e convivem com outras espécies. Ambas as variáveis são consideradas por Euclides: os tipos brasileiros, como o sertanejo e o gaúcho, resultaram não só da mestiçagem mas também da interação entre homem e natureza, homem e sociedade. Continua a operar o paralelo entre as séries, especialmente entre as mais próximas: as espécies de plantas e de animais devem a sua anatomia e fisiologia tanto à herança quanto a seculares esforços de adaptação ao meio e aos outros organismos.

A simetria, que se dá por provada no nível genético e no nível mesológico, estendendo-se ao social. E os caracteres raciais ora confirmam-se ora se alteram no curso histórico da luta pela vida. Nessa altura, o quadro torna-se mais móvel. Há forças em tensão, há possibilidades de triunfo para espécies bem dotadas, ou de aniquilamento para as menos capazes.

Quais seriam as raças mais resistentes aos contrastes do clima e do solo brasileiro? - esta é a pergunta julgada pertinente por Euclides; e, para respondê-la, recorre aos antropólogos do seu tempo. Os que conhece e cita, um Broca e um Gumplowicz, por exemplo, são unânimes em afirmar a superioridade da raça branca, mais forte e mais ajustada à civilização do que a negra ou a "vermelha" (como então se dizia, supondo-se que o índio americano fosse autóctone, sem relação com a raça amarela).

A crença na existência de raças superiores traz consigo a idéia de que a mestiçagem é um risco, pois o fruto pode. herdar tanto os traços "positivos" como os "negativos" das espécies que se cruzaram.

Euclides admite, no esquema geral de Os Sertões, que. esses traços são transmitidos de geração a geração. Mas, e este é seu mérito, procura atentar também para os fatores diferenciais do processo, e dá relevo constante ao clima, ao solo, às condições de vida e ao regime de trabalho em que se deu a mestiçagem.

As suas conclusões são conhecidas:

"Não temos unidade de raça".

"O português é o fator aristocrático da nossa gens".

"A mistura de raças mui diversas é, na maioria dos casos, prejudicial".

A mestiçagem extremada é um retrocesso".

"O mestiço... é, quase sempre, um desequilibrado".

"... o mestiço - mulato, mameluco ou cafuz - menos que um intermediário, é um decaído, sem a energia física dos ascendentes selvagens, sem a altitude intelectual dos ancestrais superiores" (3)

O cruzamento do português com o índio teria dado, porém, resultados díspares conforme o meio em que se fez: mais feliz no Sul, onde o clima regular, o solo, em geral fértil, e a direção dos rios propiciaram a livre expansão do indivíduo - o bandeirante, o peão; menos feliz no Nordeste, onde os contrastes violentos de seca e chuva e as vastas extensões semi-áridas foram responsáveis pela constituição instável do sertanejo e pelo seu ritmo de vida carente de equilíbrio.

Dai ao retrato psicológico e ético vai um passo. Que Euclides dá sem hesitar. O sertanejo é foco de contrastes: valente, mas supersticioso; forte, mas abúlico; generoso, mas fanático. Estão lançadas as bases para a interpretação do fenômeno de Canudos, encontro histórico de raças e meios diversos: o sertanejo rebelde, mas impotente, contra o homem do litoral, branco ou, se mestiço, "condenado à civilização".

A vida de Antônio Vicente Mendes Maciel e a história do arraial formavam para Euclides peças de um só conjunto, enquanto expressões da religiosidade sertaneja. O Conselheiro, cuja biografia até Canudos poderia ser apenas a de um infeliz mas vulgar foragido da lei, ou a de um louco perdido em seus delírios proféticos, assume, a partir da fundação do arraial em pleno sertão, o papel de homem--síntese de uma realidade social e religiosa, a condição do sertanejo pobre. Ele é um marginal, como boa parte da plebe que o rodeia. Ele desconfia das autoridades, mas nada leva os seus companheiros a crer nesse poder distante e hostil. Ele espera um futuro melhor que há de vir mediante a ajuda sobrenatural, e outra esperança não podem alimentar os seus jagunços. O Conselheiro é o homem da Providência e, como tal, preenche uma função na economia espiritual do sertão.

A compreensão do messianismo foi uma conquista no roteiro intelectual de Euclides que, repórter de O Estado, ainda partilhava com os bem-pensantes da idéia de uma Canudos monarquista articulada com políticos reacionários ou com os revoltosos da Marinha. Os Sertões descartam essa crença, nascida da mais crassa ignorância da mentalidade sertaneja que a obra quer, confessadamente, interpretar. Mas já sabemos o quanto a interpretação se achava presa a um sistema de pensar fatalista. Entre o observador atento e a cidadela-mundéu dos jagunços havia mais do que um simples olhar desprevenido: a fixação do homem e o relato da luta não se fariam sem a tela das mediações ideológica e literária.

O Conselheiro será, sempre, o fruto mórbido de uma cultura propensa à desordem e ao crime. Como a sociedade que o produziu, ele tende a reviver esquemas regressivos de conduta e de linguagem:

"É natural que estas camadas profundas de nossa estratificação étnica se sublevassem numa anticlinal extraordinária - Antônio Conselheiro... As fases singulares da sua existência não são, talvez, períodos sucessivos de uma moléstia grave, mas são, com certeza, resumo abreviado, dos aspectos predominantes de mal social gravíssimo. Por isso o infeliz, .destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma potência superior, bater de encontro a uma civilização, indo para a História como poderia ter ido para o hospício. Porque ele para o historiador não foi um desequilibrado. Apareceu como integração de caracteres diferenciais - vagos, indecisos, mal percebidos quando dispersos na multidão, mas enérgicos e definidos, quando resumidos numa' individualidade" (...) É difícil traçar no fenômeno a linha divisória entre as tendências 'pessoais e as tendências coletivas: a vida resumida do homem é um capítulo instantâneo da vida de sua sociedade..."

Sempre a noção do indivíduo como condensação extrema do meio social que, por sua vez, se explicara a partir da raça e das condições geográficas. No texto citado, homem e comunidade são vistos como desequilibrados: afeta-os a insânia mística, a paranóia messiânica, numa palavra, a aberração em face dos modos "civilizados" de convivência. Atua em Euclides a tábua de valores da' sua cultura que, para qualificar os aspectos diferentes, recorria à pecha de "anormalidade". O que não é igual a nós traz o estigma da loucura: é o raciocínio que subjaz a esse modo de ver o outro.

O abuso dessa psiquiatria positivista, que a pena sutil de Machado de Assis já expusera ao ridículo no Alienista, casa-se bem com os preconceitos acerca de raças superiores e inferiores e com o alarme ante os riscos da mestiçagem. A ideologia dos fins do século XIX parece descer por um declive cético oposto ao progressismo confiante dos primeiros republicanos, ainda românticos e liberais. Para estes, a ciência caminharia sempre a serviço de uma Humanidade livre: é ler Hugo, Tobias Barreto, Castro Alves, o jovem Rui Barbosa. Mas a Biologia do tempo detinha-se cada vez mais na descrição miúda de uma Natureza indiferente ao homem; e a Antropologia interpretava o destino deste como luta selvagem pela sobrevivência, da qual emergiriam as raças e os indivíduos mais fortes. Trata-se de um conhecimento que nada promete: apenas reconhece as estruturas da vida orgânica e das forças ambientais. ~ uma ciência que vai crescendo seguida da própria sombra ideológica: a consciência infeliz da cultura na época áurea do colonialismo europeu.

Mas a tensão entre esse saber, considerado natural e científico, e um julgar, de natureza ética mais ampla, está presente n'Os Sertões, obra que quer explicar a luta contra Canudos e, ao mesmo tempo, a denuncia:

"A civilização avançará nos sertões impelida por essa implacável "força motriz da História" que Gumplowicz, maior do que Hobbes, lobrigou, num esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes.

Aquela campanha lembra um refluxo para o passado.

E foi, na significação integral da palavra, um crime.

Denunciemo-lo" (Nota Preliminar).

  

        "OS SERTÕES": O TRABALHO DA LINGUAGEM

Passando do nível da estrutura de pensamento para o dos processos de linguagem, vê-se quanto a mediação literária se compôs para figurar a ideologia do inapelável.

O estilo da obra organiza-se mediante alguns poucos processos retóricos: em primeiro plano, a intensificação e a antinomia.

Por intensificação entende-se aqui o uso de termos e de expressões que potenciam a apreensão do objeto pela palavra. Boa parte do "gongorismo" verbal atribuído a Euclides deve-se reportar a seu vezo de agigantar o tamanho, agravar o peso, acelerar o ritmo, alongar as distâncias, acentuar as diferenças, exasperar as tensões, radicalizar as tendências: em suma, ver nas coisas todas a sua face desmedida e extrema.

Alguns exemplos:

"Desce a noite, sem crepúsculo, de chofre - um salto da treva por cima de uma franja vermelha do poente - e todo esse calor se perde no espaço numa irradiação intensíssima, caindo a temperatura de súbito, numa queda única, assombrosa..."

"Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares."

"O olhar fascinado perturbava-se no desequilíbrio das camadas desigualmente aquecidas, parecendo varar através de um prisma desmedido e intáctil... Então, ao norte da Canabrava, numa enorme expansão dos planos perturbados, via-se um ondular estonteador, estranho palpitar de vagas longínquas."

"E entrechocadas umas e outras, num desencadear de tufões violentos, altejam-se, retalhadas de raios, nublando em minutos o firmamento todo, desfazendo-se logo depois em aguaceiros fortes sobre os desertos recrestados."

"Atrofiam as raízes mestras batendo contra o solo impenetrável e substituem-nas pela expansão irradiante das radículas secundárias, ganglionando-as em tubérculos túmidos de seiva."

"Reboam ruidosamente as trovoadas fortes. As bátegas de chuvas tombam grossas, espaçadamente, sobre o chão, adunando-se logo em aguaceiro diluviano..."

"Espancado pelas canículas, fustigado dos sóis, roído dos enxurros, torturado pelos ventos, o vegetal parece derrear-se aos embates desses elementos antagônicos e abroquelar-se daquele modo, invisível, no solo sobre que alevanta apenas os mais altos renovos da fronde majestosa."

"Aquela criança era, de certo, um aleijão estupendo. (...) Repontava, bandido feito, à tona da luta, tendo sobre os ombros pequeninos em que se um legado formidável de erros. Nove anos de vida adensavam três séculos de barbaria."

À semântica da percepção exacerbada corresponde um largo uso de superlativos: "situação crudelíssima", "disposição singularíssima", "graus anormalíssimos", "forma atraentíssima", "aspectos anormalíssimos", "irradiação intensíssima , "penosíssimos êxodos"...

Ao lado destas formas diretas de produzir efeitos de intensidade e imensidade, Euclides pratica certo modo de aliar o adjetivo ao substantivo, no intuito de acrescer o último, que acaba roçando pelo pleonasmo. Exemplo disso são grupos nominais como "fatalidade inexorável", "sóis ardentes", "remoinhos turbilhonantes", "desertos recrestados", "fortes aguaceiros , aguaceiro torrencial", "cintilações ofuscantes", "estrelas fulgurantes", "estio ardente", "apoteose triunfal"; e este caso raro de diminutivo tautológico: "pequenos arbúsculos"...

O objeto da descrição ganha uma dureza, uma inflexibilidade tal que a sua relação com qualquer objeto há de ser, forçosamente, a de oposição. Agigantando-se, cada ser se põe, em face do outro, como um antagonista. Nesse universo exacerbam-se os seres e as relações entre os seres.

O uso da antítese que um leitor perspicaz, Augusto Meyer, viu como o traço mais saliente do estilo euclidiano, virá a entender-se melhor se posto em função da natureza mesma da hipérbole. Porque o contraste, quando imediato, é também um modo de realçar a expressão de cada um dos objetos aproximados.

Em uma proposição do tipo "Os vales secos fazem-se rios", a secura torna-se mais sensível quando oposta e unida à fluidez das águas, e vice-versa. Os contrários, colados, avivam-se: "Da extrema aridez à exuberância extrema", "os vales nimiamente férteis e os estepes mais áridos", "barbaramente estéreis; maravilhosamente exuberantes"; "...aqueles núcleos obscuros, alguns mais vastos que a Terra, negrejando dentro da cercadura fulgurante das fáculas"; "crescem a um tempo as máximas e as mínimas, até que no fastígio das secas transcorram as horas num intermitir inaturável de dias queimosos e noites enregeladas"; "insola-se e congela-se em 24 horas".

Passando do discurso sobre a natureza ao retrato dos homens, mantém-se o processo do acirramento antinômico:

"... o chefe do povo, o astuto João Abade, abrange no olhar dominador a turba genuflexa"; "o velho Macambira, pouco afeiçoado à luta, de coração mole", segundo o dizer expressivo dos matutos, mas espírito infernal no gizar tocaias incríveis..."; "vaqueiros rudes e fortes, trocando, como heróis decaídos, a bela armadura de couro pelo uniforme reles de brim americano"; "madonas emparceiradas a fúrias; belos olhos profundos, em cujos negrumes afuzila o desvario místico"; "Batistas truculentos, capazes de carregar os bacamartes homicidas com as contas dos rosários...

Essa retórica não é neutra. Ela visa, pelo uso da hipérbole, a transmitir uma impressão de grandeza, até mesmo de terribilidade que suscitaria o trato do solo e do clima; e força, pelo uso da antítese, o sentimento de que as forças naturais e morais assim desencadeadas coexistem em um desequilíbrio prestes a derivar para a catástrofe. A rigor, a linguagem descritiva e narrativa de Os Sertões move-se no universo semântico do inelutável.

Não convém esquecer a gênese da obra: ela é o desenvolvimento de uma série de reportagens feitas junto ao sítio do massacre. O seu vetor narrativo é a destruição de uma comunidade. Assim, tanto a ordenação dos sucessos (dispositio) quanto o tratamento verbal (elocutio) se subordinam à percepção de uma realidade já vista e já sentida e qualificada como trágica.

Tratando-se sempre de uma obra de fundo histórico, a margem de liberdade estilística se faz maior no momento da elocução (no caso, pelo uso intensivo de certas figuras) do que na montagem do relato; esta depende, em larga medida, da série cronológica. Assim é, especialmente se vemos do alto o esquema da campanha, isto é, se atentamos apenas para as suas fases maiores, as quatro expedições narradas em ordem sucessiva. Euclides procurou ser fiel às marchas e contramarchas da luta (Parte III) e à doutrina rígida dos encadeamentos de causa e efeito que norteava a sua percepção da História. Mas, em virtude dessa mesma fidelidade a um pensar os dados históricos como elos necessários de uma cadeia temporal, acabou identificando evento e fatalidade. A sucessão das contingências é absorvida por um sistema fechado de escrita, que é o espaço literário próprio para a representação do trágico. O trágico, nascido à sombra de uma ideologia determinista, apossa-se da ordem narrativa e dá-lhe um sentido de inexorabilidade.

Na representação dos quadros coletivos ou das ações individuais atua sempre uma vinculação estreita. Quais os antecedentes remotos da luta? Tropelias dos jagunços no interior baiano. Qual a causa dessas tropelias? A ociosidade, a disponibilidade do sertanejo naquelas paragens. E qual o motivo dessa condição? A decadência dos garimpos que outrora atraiam boa parte da população masculina. Não há elo falho. Passando às causas próximas da luta, quais seriam? "Determinou-a incidente desvalioso": a falta de cumprimento, por parte das autoridades de Juazeiro, do contrato feito com o Conselheiro; este pagara adiantado uma sortida de madeiras, mas não a recebera na data aprazada. Mas, por que essa conduta fraudulenta? Um vexame sofrido pelo juiz da cidade quando esta fora invadida por gente de Canudos. E qual a razão dessas investidas? O descompasso entre uma sociedade arcaica e as instituições "civilizadas" da República. O porquê desse desnível já fora, por sua vez, devidamente indicado na segunda parte, O Homem. Também ai, nenhum missing link.

O enlaçamento dos fatos é uma reiterada aplicação da lei da causalidade. As idas e vindas da tática militar, que constituem o miolo da terceira parte, ilustram, no dia-a-dia da campanha, o mesmo sólido travejamento. O espaço do embate é causa do seu modo de ser: o cipoal da caatinga faz da guerra uma guerrilha e do jagunço um adversário solerte e invisível. As tropas federais, por sua vez, guiadas por militares que subestimavam o homem do sertão, deveriam fatalmente sofrer revés sobre revés. Mas, como é de lei, o mais forte aniquilará o mais fraco, e a cidadela será destruída.

Do traçado mecânico dos fatos, da adesão filosófica ao determinismo, parece que não poderia surgir outra voz que não a do consenso impassível ou, quando muito, resignado. Mas o discurso trágico não se esgota na enunciação do "é assim mesmo ; recortando a vítima que o excesso de violência fez culposa e o mesmo excesso esmagou, o trageda se debruça piedoso sobre a fragilidade da carne punida e lamenta como pode o rigor do destino. Na tragédia há tempo de pecar, tempo de punir e tempo de chorar. Abraçando a imanência da lei, ela dá acesso à transcendência de uma reflexão sofrida em torno do mal. E o inelutável do fato e da regra vai cedendo o duro cerne às inflexões de um pensamento propriamente humano. A linguagem da denúncia e do protesto que remata a narração de uma Canudos derruída e aviltada cumpre uma função de apelo, em que pode aparecer um "nós" empenhado no que diz, e na qual já não reina sem contraste a impessoalidade do discurso factual:

"Fechemos este livro.

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.

Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem...

Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos?...

E de que modo comentaríamos, com a só fragilidade da palavra humana, o fato singular de não aparecerem mais, desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos na véspera, e entre eles aquele Antônio Beatinho, que se entregara, confiante - e a quem devemos preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa História?

Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5200, cuidadosamente contadas."

 

        A LEITURA DE "Os SERTÕES", HOJE

Pode-se ler a obra principal de Euclides aproximando-a da prosa do seu tempo: naturalista no espírito, acadêmica no estilo. A mediação ideológica integra Os Sertões na cultura que presidiu ao estabelecimento da Primeira República. Quanto à mediação literária, trata-se de um legítimo coetâneo de Afonso Arinos, Coelho Neto, Rui Barbosa e Olavo Bilac, autores cujo nacionalismo e eventual sertanismo se resolviam perfeitamente em uma dicção purista levada ao extremo do arcaismo e do preciosismo.

A primeira conclusão que se tiraria desses vínculos é que Os Sertões são obra irremediavelmente datada. Conclusão perigosa como todas as meias verdades. Euclides não se teria tornado um dos nomes centrais da cultura brasileira pelo determinismo estreito das idéias nem pelo rebuscado da linguagem: ele nos afeta apesar desses caracteres postos em crise pela ciência e pelo gosto do século XX. A leitura moderna d'Os Sertões deve apanhar os seus estratos superiores e mais resistentes: a inegável potência da representação, o cuidado de ler atrás do fato o seu contexto, a capacidade de desentranhar da História os momentos em conflito e, como se viu linhas atrás, a possibilidade de superar fáceis esquemas ideológicos em busca de uma objetividade mais alta, realizada na denúncia de um equívoco que, consumado, se fez crime.

A condição sertaneja ganhou, a partir de Euclides, uma consistência nova em nossas letras: o estatuto da contradição. Hoje podemos dialetizar o que no livro está dito em forma de opostos inconciliáveis:

litoral/sertão, branco/mestiço e, no interior da vida sertaneja, coragem/timidez, violência/apatia, orgulho/obediência, rebelião/superstição. Hoje, depois de tantos bons estudos sobre messianismo, sabemos interpretar o fenômeno não mais em termos de psiquiatria coletiva, mas articulando com todas as forças de resistência de que se vale a cultura popular em momentos de crise e de opressão. É necessário reconhecer, porém, que o recorte daqueles contrastes e o relevo dado ao profetismo jagunço foram obra apaixonada de Euclides, e que estavam n’Os Sertões sessenta anos antes de terem virado tema de teses universitárias.

Propor o estudo d'Os Sertões aos estudantes de hoje não é tarefa muito fácil; e menos rendoso ainda se tornará o projeto do educador se ele insistir em apontar ao jovem somente aqueles traços da obra pelos quais ela não vai além de documento do seu tempo: a linguagem rebarbativa, o ângulo faccioso da visão. Se, ao contrário, forem escolhidas para leitura e análise as páginas de vigorosa mimese da Natureza e da História; e se acentuarem os momentos de tensão ética que não faltam ao longo do livro, então ficará plenamente iluminada a sua classicidade profunda, e a reedição de Os Sertões assumirá o significado que os organizadores se propuseram dar-lhe ao prepará-la para o 70º aniversário do seu aparecimento.

 

NOTAS

 

(1) V. as páginas equilibradas que Olympio de Souza Andrade dedicou à questão, em História e Interpretação de "Os sertões"', 2.ª ed., S. Paulo, Edart, pp. 236-245.

(2) O uso da palavra 'raça' aplicada ao homem só se generalizou no século XIX; até o século XVIII, segundo as pesquisas de Leo Sptizer, o termo só era corrente na acepção de "espécie animal" (Em Critica stilistica e semantica historica, Bar1. Laterza, 1966. pp. 230-241).

(3) São todas frases categóricas que os maiores antropólogos do século XX iriam desmentir. Um Boas, um Frobemus, um Malinowski, um Lévi-Strauss reduziram-nas ao que são: pseudociência, preconceitos gerados numa fase de expansão do colonialismo europeu; mas preconceitos que dariam os mais sinistros resultados durante o regime nazista, que explorou politicamente a noção antiquada e falsa de "raça pura". No Brasil, aqueles modos de ver foram partilhados ingenuamente por mais de um estudioso sério: Nina Rodrigues, por exemplo, mestre de estudos afro-brasileiros, e que influiu no pensamento de Euclides. Mas, graças à inteligência de mestres como Roquete Pinto, Artur Ramos, Gilberto Freyre, Roger Bastide e Florestan Fernandes, também entre nós se estabeleceu um critério sócio-cultural para entender os fatos da mestiçagem, relegando-se as teorias racistas a merecido limbo.

 

        BIBLIOGRAFIA BASICA

Dispõem-se os livros na ordem cronológica da sua publicação.

 

1. ARARIPE JR. - "Dois grandes estilos". Prefácio da 2ª edição de Contrastes e Confrontos de Euclides da Cunha. Porto, Lello, 1907.

2. FRANCISCO VENANCIO FILHO - Euclides da Cunha. Rio, Academia Brasileira de Letras, 1931.

3. VICENTE LICÍNIO CARDOSO - À Margem da História do Brasil. 2ª ed., S. Paulo, Cia. Editora Nacional, 1938.

4. GILBERTO FREYRE - Perfil de Euclides e Outros Perfis. Rio, José Olympio, 1944.

5. SILVIO RABELO - Euclides da Cunha. Rio, Casa do Estudante do Brasil, 1947.

6. FRANKLIN DE OLIVEIRA - A Fantasia Exata. Rio, Zahar, 1959.

7. CRUZ COSTA - Panorama da História da Filosofia no Brasil. 5. Paulo, Cultrix, 1960.

8. OLYMPIO DE SOUZA ANDRADE - História e Interpretação de "Os Sertões". 5. Paulo, Edart, 1960.

9. MODESTO DE ABREU - Estilo e Personalidade de Euclides da Cunha. Rio, Civilização Brasileira, 1963.

10. NELSON WERNECK SODRÉ. "Introdução" a Os Sertões. Editora Universidade de Brasília, 1963.

11. CLÓVIS MOURA — Introdução ao Pensamento de Euclides da Cunha. Rio, Civilização Brasileira, 1964.

12. OLYMPIO DE SOUZA ANDRADE - Euclides da Cunha. Antologia. S. Paulo, Melhoramentos, 1966.

13. EUCLIDES DA CUNHA, Obra Completa, edição Aguilar sob a dir. de Afrânio Coutinho, 2 vols., Rio, 1966.

14. DANTE MOREIRA LEITE - O Caráter Nacional Brasileiro, 2.' ed., S. Paulo, Pioneira, 1969.